A Palavra “Terrorismo”

Cena do filme japonês Hadashi no Gen” (Gen Pés Descalços) 1983, mostrando a devastação da bomba atômica “Little Boy” jogada em Hiroshima no dia 6 de Agosto de 1945

Sempre fui muito cínico em relação ao conceito de “crimes de guerra” (como se a própria guerra em si já não fosse, pela própria natureza, um crime) ou da ideia de distinguir ações militares que matam cíveis de terrorismo.

Me parece que essa palavra “terrorismo” é usada muitas vezes apenas como uma forma de Estados reconhecidos pela comunidade internacional criarem uma distinção imaginaria da violência praticada por eles da violência perpetrada por aqueles que não gozam desse mesmo reconhecimento.

Os ataques russos ao longo da invasão da Ucrânia, por exemplo, de modo geral não foram considerados como terrorismo pela comunidade internacional apesar dos milhares de civis mortos. O mesmo podemos dizer dos ataques contra Hiroshima e Nagasaki, que assassinaram cerca 200 mil japoneses inocentes. E o mesmo se aplica aos ataques de Israel na Faixa de Gaza.

Ao mesmo tempo, muitas vezes esse organismo não-estatal ou sem o reconhecimento e chancela da comunidade internacional, não tem poder bélico para responder na mesma moeda. Não tem poder para dar esse verniz cínico de “ações militares”, ao que é essencialmente terrorismo, que as nações estabelecidas e com alto poder militar tem capacidade de realizar.

Quero dizer, os Estados Unidos não precisou sequestrar 200 mil japoneses e executá-los um a um ao longo de meses. Eles tinham duas bombas atômicas e simplesmente as explodiram em duas cidades japonesas. O resultado foi o mesmo, mas a forma como foi feito, de modo mais “indireto”, sem precisar sujar as mãos de sangue, permitiu-lhes diferenciar esse terrorismo “limpinho”, cometido por eles, do terrorismo tradicional, cometido pelos outros.

Mas no fim do dia você teve inocentes mortos do mesmo jeito.

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