Motivações artísticas e a “parte técnica” da arte

Obra gerada por IA vence concurso de arte e causa polêmica

Com o advento da inteligência artificial generativa, muitos artistas têm se questionado sobre a motivação para se criar arte. E eu venho pensando nisso também, sobre o que isso significa para a criação artística e para os artistas.

Se você está interessado na arte pela arte… a IA não pode te dar a experiência de saber pintar ou escrever com as próprias mãos, nem possuir o conhecimento técnico de como criar aquilo por si só (alguém criando arte via prompt desempenha o papel muito mais próximo de um diretor artístico do que o de um desenhista ou fotógrafo, ele ainda é um artista, mas são papéis distintos). A máquina pode apenas fazer isso por você.

Por exemplo, o Xadrez é dominado desde o fim dos anos 90 por robôs, desde que Kasparov perdeu para o Deep Blue um humano jamais conseguiu vencer a máquina, porém ainda assim as pessoas aprendem xadrez.

E se você quer criar como uma forma de autoexpressão e de possuir o conhecimento de fazer aquilo e dominar a habilidade, a invenção da IA criadora de arte não afeta você. A IA não te impede de criar arte. Continuar lendo Motivações artísticas e a “parte técnica” da arte

A Soberba do Artista

É um tanto engraçado ver artistas, muitos dos quais nem sequer acreditam no sobrenatural, alegando que a máquina jamais conseguirá criar uma arte original porque o ser humano tem algo especial nele. É o tipo de argumento que você espera ouvir de religiosos e não de artistas seculares. Exceto se você acredita que almas ou alguma energia sobrenatural desempenha um papel para a inteligência, o ser humano fundamentalmente não tem nada de “mágico” que possa diferir da IA, de modo que o desenvolvimento da mesma é inevitável. Acho que artistas deveriam ser mais humildes… [₁][₂]

Como a Imprensa Mente para Você

O poder da grande mídia consiste em controlar a opinião pública em grande parte através do processo de editorialização, não só da notícia, mas da própria história da humanidade.

Entenda, uma matéria falsa, completamente inventada do zero, é fácil de ser desmascarada. Jornal diz que B aconteceu, porém B não aconteceu. Isso é amadorismo. A arte da mentira está nas meias-verdades, ou no que o jornalista Fábio Boechat chamou de “Fuck News”, a notícia pela metade, a notícia cagada, a notícia de merda. A imprensa diz que evento A aconteceu, o que é verdade, mas não menciona evento B, C, D, E, F, etc… que mudariam sua conclusão sobre o evento A. Isso é demonstrado de forma brilhante no comercial, ironicamente, do jornal Folha de São Paulo de 1995. Continuar lendo Como a Imprensa Mente para Você

Do Mind Copies Dream of Metaverse Heaven?

Eu… eu acho que não tive uma vida muito felizEu podia ter tentado fazer algo a respeito, não é culpa de nenhuma outra pessoa, parte é azar, parte culpa minha (ou talvez eu seja só um merdinha que não sabe valorizar o que tem e esteja reclamando de barriga cheia, não é?). Nasci homem e pobre.

E eu estava pensando algo absolutamente aleatório, talvez seria alguma boa ideia para um filme ou algo assim, algum episódio do Black Mirror. Sobre alguém morrendo, que teve uma vida infeliz, e eles acabaram de descobrir a tecnologia de mind-copy, de você copiar a sua mente para um computador. Você ainda morreria, não estamos falando aqui de imortalidade, mas você poderia salvar alguém igual a você.

E estava pensando nessa história de alguém decidindo clonar sua mente, e dar a uma versão de si mesmo a vida que ele sempre quis. Da nobreza e do gosto agridoce que seria ter essa atitude, sabendo que uma versão mais feliz sua poderia existir numa realidade virtual, ou seja lá onde viveriam esses avatares.

Em muitos aspectos o episódio San Junipero é similar ao que eu estou dizendo, porém… não existe esse aspecto dramático em relação a ele, até porque na história não se trata de um mind-copy, e sim dum mind-transfer (ao menos o episódio não indica que as protagonistas morreram e que quem foi viver no metaverso foram avatares delas). Elas não mandaram dois clones irem viver felizes para sempre na realidade virtual, elas mesmas foram para lá.

Talvez uma versão de mim poderia ser mais feliz no metaverso…

O passado e o futuro da dublagem (e da arte como um todo)…


Talvez em poucos países do mundo a dublagem seja tão amada, tão querida e tão valorizada quanto no Brasil. Já assisti alguns filmes e animes japoneses com a dublagem em inglês e simplesmente não têm a mesma qualidade. E aqui, você tem dubladores que, só de escutar a voz deles, aquilo já te teleporta para tardes de 2002, com você chegando da escola, se enrolando em um cobertor em um dia frio de outono e assistindo filmes dos anos 80 e 90 na Sessão da Tarde, dublados por André Filho e Márcio Seixas.

Entretanto, diante de tudo e tal como em todos os aspectos da vida humana, temos a tecnologia, sempre recomeçando e mudando tudo. A única constante da vida é a mudança. Diante de tudo e desses avanços tecnológicos e, apesar do meu amor por dublagem e por tecnologia, sinto uma sensação agridoce de que dubladores serão substituídos.

Talvez, no início, ainda tenhamos algum dublador anônimo usando o filtro de voz para deixar a voz igual à de algum profissional famoso já consagrado, essencialmente transferindo sua performance para alguma voz já carimbada – um “ghost voice actor” se quiser chamar assim. Até que todo o processo de dublagem passe a ser feita via TTS.

Se você escutar um áudio criado, por exemplo, pela inteligência artificial da Eleven Labs, o maior problema é a falta de entonação, que poderia ser resolvido talvez simplesmente usando o áudio original na língua estrangeira como referência, somado a análises de emoção via interpretação textual através de modelos de linguagem como o ChatGPT para saber em que momento o robô deveria colocar mais ou menos ênfase e dar vida ao personagem.

Em última instância, toda essa automatização, e já escrevi sobre isso, não vai parar com a dublagem. Logo, os próprios atores também serão substituídos por algoritmos text to video dando origens a filmes criados por IAs, até a completa automatização da arte, ou talvez melhor dizendo da parte técnica da arte. Porque, embora a máquina vá conseguir fazer tudo sozinha, as pessoas vão querer continuar escrevendo suas próprias histórias. A IA não pode entrar na sua cabeça e produzir exatamente o filme que você iria querer produzir… mas aqui eu já estou divagando sobre o futuro. Ainda vou escrever um texto falando mais sobre como a IA afetará as pessoas criativas.

Enfim, essa automatização vai permitir que mais arte seja criada. No caso da dublagem, permitirá que todo conteúdo já feito, todos os filmes em múltiplas línguas que jamais seriam dublados, porque jamais teve uma demanda que justificasse tal custo – visto que no fim do dia é sobre dinheiro, um estúdio só mandará dublar o filme se isso se pagar. O que resulta em muitos filmes europeus, muitos animes e afins nunca sendo dublados.

No fim do dia, a morte duma indústria por mais trágica que ela possa ser, sempre resulta em benefícios para o resto da sociedade como um todo. Durante o surgimento do cinema até a invenção dos filmes com áudio haviam bandas que acompanhavam a exibição do filme para tocar a trilha sonora.

Possivelmente, a dublagem humana ainda terá um valor, especialmente como um sinal de prestigio similar a como certos prédios chiques ainda possuem ascensorista: “Oh, esse filme foi dublado por uma pessoa de verdade, que foi lá e leu o texto, com a própria voz”, mas no geral, acho que presenciaremos a morte de uma indústria.