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O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA

SDXL / Katsuhiro Otomo

Procurando por soluções em todos os lugares errados.

Essa atual revolta contra a inteligência artificial vinda de trabalhadores intelectuais ensinou a qualquer um prestando atenção mais sobre o ludismo do que muito livro de história por aí. Nos ensinou até um pouco além, não só sobre o ludismo, e a cegueira antitecnologia, mas sobre o desprezo pelo homem comum vindo de certos grupos. Ensinou:

1) Uma soberba duma elite de trabalhadores intelectuais que, no fundo, sempre olhou de cima para o “chão de fábrica”. Gente que essencialmente se achava melhor que os outros por ganhar a vida “fazendo arte”. Isso essencialmente colocou um cheque de humildade neles. Não à toa, entre as críticas papagaiadas pelos becos do twitter é comum ouvir algo como “Oh, eles deveriam automatizar o trabalho repetitivo, chato, bruto, o trabalho sem propósito, o trabalho inútil, o trabalho para gente burra (embora não digam isso em voz alta), etc, etc, não o nosso trabalho especial e encantado”, o que por si só é uma frase desprezível.

Se você precisa do trabalho, ele tem um propósito, o propósito dele é te sustentar. Dizer automatizem trabalho X, Y, Z, é simplesmente dizer, da forma mais cínica e debochada possível “automatizem o trabalho dos outros e não o meu”. Continuar lendo O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA

Motivações artísticas e a “parte técnica” da arte

Obra gerada por IA vence concurso de arte e causa polêmica

Com o advento da inteligência artificial generativa, muitos artistas têm se questionado sobre a motivação para se criar arte. E eu venho pensando nisso também, sobre o que isso significa para a criação artística e para os artistas.

Se você está interessado na arte pela arte… a IA não pode te dar a experiência de saber pintar ou escrever com as próprias mãos, nem possuir o conhecimento técnico de como criar aquilo por si só (alguém criando arte via prompt desempenha o papel muito mais próximo de um diretor artístico do que o de um desenhista ou fotógrafo, ele ainda é um artista, mas são papéis distintos). A máquina pode apenas fazer isso por você.

Por exemplo, o Xadrez é dominado desde o fim dos anos 90 por robôs, desde que Kasparov perdeu para o Deep Blue um humano jamais conseguiu vencer a máquina, porém ainda assim as pessoas aprendem xadrez.

E se você quer criar como uma forma de autoexpressão e de possuir o conhecimento de fazer aquilo e dominar a habilidade, a invenção da IA criadora de arte não afeta você. A IA não te impede de criar arte. Continuar lendo Motivações artísticas e a “parte técnica” da arte

“How Photography Became An Art Form”

“How Photography Became An Art Form”

“Como a fotografia se transformou em arte”, esse texto explica muito bem como a classe artística tende a reagir diante de tecnologias disruptivas, tal como a criação da fotografia no século 19. Para quem está acompanhando toda a discussão e revolta na classe artística  [1,2,3,4] diante das máquinas criadoras de arte, os argumentos usados para invalidar a arte criada por IAs são em grande parte os mesmos usados para invalidar a fotografia: O “Oh, é só apertar um botão”  virou “Oh, é só digitar um texto”.

No fim acredito que isso é motivado por medo de perder um emprego e um sentimento luditas. Evidentemente a automatização terá um impacto negativo, mas isso é a vida. Os impactos que a automatização irá gerar nos próximos anos – que, vale lembrar não se limitam apenas a arte, que, comparada a outros ramos até que foi pouco afetada pela automatização ao longo das últimas décadas –  devem ser abordados sem simplesmente resolver abraçar o ludismo e se rebelar contra o progresso. Eventualmente, nos próximos 10 ou 20 anos.

O texto está em inglês, mas é só colocar no Google Tradutor ou, melhor ainda, no DeepL, que é plenamente compreensível e certamente também fará tradutores ficarem mais e mais contrários a automatização em tal ramo.

Minha correta previsão de 2015 sobre as IAs criadoras de arte

Vendo todos esses algoritmos criadores de arte… modéstia à parte, me sinto um tanto orgulhoso de quão correta estava minha previsão feita em 2015 sobre o futuro da inteligência artificial na criação artística. Imagino quantas outras previsões “minhas” acabarão estando corretas no futuro.

Não sou um cientista da computação, não sou um especialista, não sou ninguém, mas quando tento imaginar o futuro sempre penso nos termos de:

A) Existe uma demanda para aquilo?
Isso simplesmente diz respeito a questões “chatas” envolvendo oferta e demanda e outros incentivos para a criação de um determinado produto no mercado

B) Aquilo é fisicamente possível?
Não me importa que essa tecnologia possa parecer ridícula ou impossível para os padrões atuais da tecnologia, o que importa é se existe algo nas leis da física que tornem aquilo fundamentalmente impossível? E no caso da criação de arte a resposta era e é não. A arte não é mágica, a criatividade não é mágica, existe habilidade, existe calculo, de certa forma a arte é criação de arte é uma estranha forma de matemática. Portanto você tinha uma tecnologia que claramente a humanidade queria e que era fisicamente possível de existir, logo era praticamente inevitável que isso fosse ser inventado algum dia.

C) Como é um mundo onde essa tecnologia existe?
Trazendo para o exemplo de minha previsão, se você tem uma máquina que é capaz de criar instantaneamente qualquer música, livro, filme, anime, etc… que as pessoas quiserem, tudo isso na melhor qualidade imaginável, isso tende a gerar uma cultura cada vez mais customizadas. Obras culturais – especialmente filmes, séries e animes, que diferente de livros, requerem um grande orçamento – são acima de tudo um produto a ser vendido. Você não pode produzir um anime que custa 3 milhões de dólares a temporada se só 10.000 pessoas no mundo que gostariam de assistir ele.

Então, você imagina um mundo onde essa restrição não existe. E onde qualquer produto artístico pode existir desde que tenha alguém que queira ver ele, mesmo que seja só 1 pessoa no mundo, e vai elaborando a ideia a partir dali. Nós parodiamos o futuro antes de inventá-lo


Enfim,  pretendo escrever mais textos sobre isso porque claramente esse assunto vai ganhar mais e mais repercussão e tento desdobramentos que não imaginei. Mas por hoje é só.

Diário: 22/07/19


“Essa é uma reforma da previdência injusta e que mantém desigualdades… tal como mulheres se aposentarem aos 62 anos e homens aos 65”

Ironias à parte. Essa questão da previdência está sendo discutida no mundo inteiro, as pessoas estão vivendo mais então a base da pirâmide tem que ficar maior. Ou seja, mais gente tem que contribuir… ou você tem que automatizar a produção de bens e serviços para poder crescer economicamente com menos gente trabalhando, como o Japão possivelmente acabe fazendo.

Essa questão está sendo discutida agora e inevitavelmente será discutida daqui a 20 ou 30 anos de novo. Porque, paralelo ao aumento da expectativa de vida, mais e mais pessoas perderão seus empregos devido a automatização. Ou seja, além de você ter um número maior de aposentados, haverá um número menor de trabalhadores e uma legião de pessoas literalmente inimpregáveis que precisarão de auxílio.

Todo conceito de previdência e seguridade social precisará ser revisto. Ideias como renda básica universal e taxar empresas que usarem automatização (sei perfeitamente quão socialista isto soa), precisarão ser debatidas.

Inteligência Artificial, Big Data e A AutoDocumentação da Realidade

Black MirrorThe Entire of You

É interessante essa autodocumentação da realidade possibilitada por tecnologias de gravação cada vez mais portáteis e que registram a realidade quase que de modo “automático” e simplesmente natural. Quero dizer, você tira o celular do bolso e começa a filmar.

Nem pensa nisso, é espontâneo, é esporádico, é natural. E, ao julgar pela evolução tecnológica diante de nós, isso ficará ainda mais simples e automático, futuramente provavelmente sendo reduzido à lentes de contato inteligentes.

Uma realidade onde todas as horas de nossas vidas são registradas em primeira pessoa e posteriormente enviadas à nuvem – quer você considere isso um futuro distópico blackmirrorniano ou não, essa é a realidade que nos aguarda, este é o nosso futuro:

Um mundo onde tudo é lembrado.

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Diário: 08/10/2018


ela parecia uma criancinha

• Estava pensando sobre porque justiceiros sociais aparentemente estão mais preocupados em humoristas que fazem “piadas sexistas” e “discurso de ódio” do que punir alguém que efetivamente matou uma pessoa ou estuprou uma pessoa, enfim… que cometeu algum crime grave… e acho que a questão no fundo se trata sobre poder. Ao punir apenas quem diretamente ataca a uma pessoa, você não está controlando ou, melhor dizendo, impondo a sua narrativa e seus valores de justiça social. E não é como se os seus valores fossem apenas “estupros são ruins” ou a “violência é ruim”, mas eles incluem coisas como “piadas são micro-agressões”. Ao criminalizar o discurso de ódio, você na verdade está impondo a sua cultura na marra.

“Uns fetiches zoados e uns paus duros”, tá aí um bom título para a minha biografia 🤔

Esse vídeo sobre o software de animação “Animation Studio” acaba ressaltando como eventualmente fazer arte vai ficar mais fácil e requerer uma menor capacidade técnica, que discorro longamente em meu artigo “A Automatização da Parte Técnica da Arte: O Uso de Inteligência Artificial na Criação Artística”. Continuar lendo Diário: 08/10/2018

Economia: Sobre Coisas e Seu Valor


O valor de bens e serviços está ligado, essencialmente, a dois fatores:

Escassez: Esse primeiro critério se aplica tanto a escassez de matéria-prima (ouro, petróleo, pedras preciosas, etc…) quanto a do conhecimento propriamente dito (saber refinar aquela matéria-prima, saber dirigir um carro, saber pilotar um avião, etc…). Da mesma forma que só temos acesso a uma determinada quantidade de ouro num determinado momento, só temos acesso a uma determinada quantidade de tradutores, médicos, etc… nesse mesmo momento. A alta demanda (muita gente querendo algo) e baixa oferta (pouca gente capaz de oferecer tais bens e serviços) eleva o preço dos mesmos, tal como a remuneração daqueles que os ofertam. Princípio este que é ilustrado de modo bem claro principalmente em certos serviços que possuem uma alta margem de lucro, com um custo operacional relativamente baixo: consultas médicas de 15 minutos que custam 200 reais. Ou, de modo mais cômico e direto, nesse vídeo sobre o trabalho de um chaveiro. Continuar lendo Economia: Sobre Coisas e Seu Valor

Diário: 25/01/17 – Alguns pensamentos sobre o conceito de trabalho


A forma como vemos o trabalho hoje em dia é fundamentalmente errada. Hoje as pessoas associam trabalho a algo engrandecedor, como algo que enobrece o homem, “algo a ser desejado”.

“Um homem sem trabalho é um homem sem dignidade.”

É uma visão romantizada em relação ao trabalho que surge a partir do fato de que a maioria das pessoas simplesmente precisa trabalhar – afinal, “não existe almoço grátis” e a mão de obra humana por mais barata que seja ainda é cara demais – e a maioria dessas estão presas em empregos repetitivos que não oferecem nenhum tipo de incentivo intelectual ou fomento criativo, isso quando não é um emprego em condições insalubres, como trabalhar em minas de carvão.

Nós passamos a ver o trabalho não como algo, dentro da antiga e atual realidade, necessário, mas como algo desejável. Pois essa última perspectiva soa muito melhor que a primeira, quando você tem que trabalhar duma forma ou outra.

É uma espécie de auto ilusão praticada em escala mundial que surge a partir do momento em que a sociedade domina as técnicas de agricultura, e você não precisava de 95% das pessoas trabalhando para produzir comida e surge uma diversificação dos empregos. E que é amplificado mais ainda com a revolução industrial e com o surgimento das grandes metrópoles com milhões de pessoas com diferentes profissões interagindo juntas.

Tudo isso deixou óbvio que existiam empregos melhores que outros, e a maioria das pessoas não conseguia ganhar dinheiro fazendo algo que elas realmente gostavam. Por isso, como um placebo, nos enganamos para ver honradez e dignidade em… necessidades tristes. No fato de que não podemos ganhar a vida fazendo algo sem nos preocupar com o financeiro.

E acredito que quando muitos futuristas falam sobre a revolução tecnológica não compreendem isso. Eles tentam vender uma imagem que “nós e as máquinas trabalharemos juntos” “robôs não tomarão nossos empregos”.

E bem, primeiro que isso não é verdade, não no final das contas. Robôs tomarão nossos empregos… e ainda bem que tomarão. Essa visão defendida por certos futuristas, embora seja uma avaliação técnica (e que está errada, já que inteligência artificial geral é possível), acredito que essa visão é influenciada por essa noção moral que menciono acima, de ver o emprego como algo nobre, pois como uma previsão técnica em relação ao futuro isto simplesmente não é baseado em fatos.

Ao meu ver é uma forma deles tranquilizarem as pessoas (e a si mesmos, talvez?) que acham o trabalho algo “moralmente belo e engrandecedor” ou de não entrarem em questões mais polêmicas em relação a mudanças mais profundas que esse tipo de automatização nessa escala causaria na sociedade, coisas como renda básica universal, por exemplo – que é muito mal vista em alguns países por ser considerado “uma medida socialista visando a implementação de uma ditadura comunista que valoriza o vagabundismo.

Mas acredito que pré-conceitos morais e políticos, e o próprio paradigma econômico-social atual, claramente interferem na “previsão” em relação ao futuro desses especialistas.

Para concluir, quando pensamos no futuro devemos quebrar essa ilusão que ensinamos a nós mesmos a ver e a acreditar. Devemos passar a ver o trabalho, no sentido atual, pelo que ele realmente é: uma necessidade triste que deve ser eliminada através de automatização numa escala jamais vista – a base de replicadores e inteligência artificial.

Há palavras como “passatempo” e “hobby”, mas todas estas trazem consigo um certo olhar menosprezante cheio duma moral falaciosa, meio que dizendo “você não ganha dinheiro com isso, então você não merece a alcunha de seja lá o que você esteja dizendo que é (artistas que o digam) – você não é um homem digno e você não é bom nisso, já que não ganha dinheiro realizando tal atividade”.

Devemos substituir o conceito de trabalho que temos hoje por “atividades que amamos, que nos esforçamos profundamente e que faríamos de graça”. Atividades que não nos importamos se há algo mais eficiente que nós, porque não estamos fazendo isso para os outros, estamos realizando tais atividades para nós mesmos, para a satisfação de nossos anseios criativos.

Ao contrário de tentarmos encaixar o conceito de trabalho que existiu até o presente momento num futuro pós-escassez, devemos demoli-lo. E devemos criar uma nova palavra para designar estas “atividades que amamos, e que nos esforçamos muito para sermos bons nelas e que faríamos até de graça, indiferente a motivações financeiras”.

A Automatização da “Parte Técnica” da Arte: O Uso da Inteligência Artificial na Criação Artística

Estamos cada vez mais próximos de automatizarmos tarefas artísticas que até hoje são feitas “manualmente”, uma a uma, levando assim a criação de arte para algo análogo a uma produção industrial. Neste texto pretendo dissertar a respeito do desenvolvimento das tecnologias de automatização e inteligência artificial, e dos impactos que julgo que elas terão sobre a sociedade.

Primeiramente, o futuro da produção de filmes permitirá com que cada vez mais e mais pessoas consigam produzir grandes obras cinematográficas em pequenos grupos, mais futuramente até mesmo sozinhas, com um baixíssimo orçamento.

Tudo isso será resultado duma engenhosa combinação de IA (Inteligência Artificial), talvez até mesmo Weak A.I (Inteligência Artificial Fraca), um grande poder de processamento, junto com “Computer vision” (Visão de computador), “Natural language processing” (Processamento de linguagem natural), modelagem de 3D automática, entre outras futuras tecnologias.

Basicamente, um programa de computador será capaz de produzir um determinado conteúdo seguindo suas instruções. Você descreverá a cena, como estará a iluminação, quantas pessoas estarão no local, o horário em que ela se passa, os diálogos, a entonação e o sentimento que você quer que aqueles atores-avatares tenham. E então o computador produzirá tal filmagem para você baseado nisso.

É importante termos em mente que, de certo modo, alguns filmes hoje em dia já são feitos dessa maneira. Filmes criados inteiramente em computação gráfica, no qual o cenário e todos os outros elementos dele são editáveis, sem a necessidade de regravar cenas. Entretanto, eles são obras produzidas de maneira extremamente artesanal, muitas vezes tremendamente mais caros do que os filmes com uma produção convencional.

A questão é que tudo que você precisa do tempo dedicado de um outro ser humano para te ajudar tende a ser um processo muito custoso e não escalável. Andy Warhol com seus quadros industrializados percebeu logo isto: o artesanal é caro.

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