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Automatização: O caixa de supermercado e o artista

Sobre essas novas inteligências criadoras de imagens (text-to-image AI): DALL-E, Midjourney, Stable Diffusion e todas as outras que virão… Muito se pensou que artistas seriam os últimos a serem “substituídos” pelas máquinas. Caixas de supermercado, garis, pintores de casa, cozinheiros, etc, esses seriam os primeiros. Diziam: “Oh, a complexidade da arte é algo muito difícil para uma máquina alcançar”

Porém, entretanto, talvez o que veremos será justamente o contrário. Se formos parar para refletir, o trabalho do artista lida com menos variáveis do que, digamos, um caixa de supermercado. Um caixa de supermercado precisa falar com pessoas, interagir com milhares de produtos todos os dias, precisa ocasionalmente repor o estoque, precisa interagir com um sistema caótico, com a complexidade caótica do mundo. Continuar lendo Automatização: O caixa de supermercado e o artista

Diário: 10/04/18


Estava juntando dinheiro para comprar um novo celular, da Xiaomi
(meu antigo celular quebrou) tava pensando em algo na casa dos 700, no máximo 800 reais. Mas acho que minha mãe vai me pedir uma grana emprestada e por isso vai demorar mais pra eu juntar esse dinheiro. Ela paga de volta só que, bem… demora… bastante… 1 ano ou mais.

Não tenho coragem de falar que não, e sei que nem tenho esse direito, eu vivo aqui de graça, e não ajudo a pagar uma conta sequer. Então, não teria o direito de não emprestar. Porra, eu não teria nem mesmo o direito de não dar esse dinheiro permanentemente, sem ela precisar me pagar de volta. Tento não causar transtornos nem brigas, porque eu sinto – aliás, não apenas sinto, mas foi algo que sempre jogaram na minha cara quando transtornos e brigas ocorriam (eles não faziam isso no dia a dia, não é como se eles ficassem me humilhando por eu não trabalhar, mas quando rolava brigas e discussões e conflitos, geralmente esse era um assunto que sempre vinha à tona) então eu tento não causar nenhuma confusão nem nada. Sempre sinto que estou “on thin ice”, como diriam no inglês. Sempre sinto que “estou por um triz”.

Enfim, acho que… é uma frustração com uma situação que você não pode fazer muita coisa pra mudar ela. Eu odeio ser pobre. Ah, ok, isso é muito comum, deixa eu colocar um pouco de estranhosidade nessa declaração: odeio ser pobre, preto e ter um pau. Agora sim estamos falando. Porque odiar ser pobre, creio eu que isso é um tanto mainstream, um tanto arroz com feijão. Queria eu ser uma japonesinha rica cheia de vestidinhos fofos. Puta merda, como sou uma criatura muito frustrada e insatisfeita com a vida/existência…

Enfim, há posts mais engrandecedores meus aqui no blog do que publicações como essa estilo “meu querido diário”, vão ler sobre a automatização da parte técnica da arte, ou sobre como as mudanças tecnológicas no mundo real afetam as histórias que contamos na ficção, ou algum texto mais filosófico que já botei nesse mundo.

Diário: 29/01/18

Sinto que ele acha profundamente injusto e tem um ressentimento pela minha pessoa, pelo que eu não faço – eu não o culpo, eu é que me culpo. Mas… é que tenho medo, pânico e ansiedade. Me desculpa, sei que isso é um motivo não lá muito bom, mas é verdade. Isso e também eu provavelmente não conseguir fazer aquilo que gosto – mas talvez as coisas que eu gosto não sejam remuneráveis, ou eu é que simplesmente não tenha capacidade pra capitalizar em cima delas – e também talvez por sentir que se eu fizesse outra coisa… o estresse, o pânico, e a falta de tempo não me deixariam fazer aquilo que me interessa – seja lá o que isso for. Seria tão bacana conseguir ganhar dinheiro fazendo esse blog. Seria tão bacana não precisar se preocupar com dinheiro.

Diário: 25/01/17 – Alguns pensamentos sobre o conceito de trabalho


A forma como vemos o trabalho hoje em dia é fundamentalmente errada. Hoje as pessoas associam trabalho a algo engrandecedor, como algo que enobrece o homem, “algo a ser desejado”.

“Um homem sem trabalho é um homem sem dignidade.”

É uma visão romantizada em relação ao trabalho que surge a partir do fato de que a maioria das pessoas simplesmente precisa trabalhar – afinal, “não existe almoço grátis” e a mão de obra humana por mais barata que seja ainda é cara demais – e a maioria dessas estão presas em empregos repetitivos que não oferecem nenhum tipo de incentivo intelectual ou fomento criativo, isso quando não é um emprego em condições insalubres, como trabalhar em minas de carvão.

Nós passamos a ver o trabalho não como algo, dentro da antiga e atual realidade, necessário, mas como algo desejável. Pois essa última perspectiva soa muito melhor que a primeira, quando você tem que trabalhar duma forma ou outra.

É uma espécie de auto ilusão praticada em escala mundial que surge a partir do momento em que a sociedade domina as técnicas de agricultura, e você não precisava de 95% das pessoas trabalhando para produzir comida e surge uma diversificação dos empregos. E que é amplificado mais ainda com a revolução industrial e com o surgimento das grandes metrópoles com milhões de pessoas com diferentes profissões interagindo juntas.

Tudo isso deixou óbvio que existiam empregos melhores que outros, e a maioria das pessoas não conseguia ganhar dinheiro fazendo algo que elas realmente gostavam. Por isso, como um placebo, nos enganamos para ver honradez e dignidade em… necessidades tristes. No fato de que não podemos ganhar a vida fazendo algo sem nos preocupar com o financeiro.

E acredito que quando muitos futuristas falam sobre a revolução tecnológica não compreendem isso. Eles tentam vender uma imagem que “nós e as máquinas trabalharemos juntos” “robôs não tomarão nossos empregos”.

E bem, primeiro que isso não é verdade, não no final das contas. Robôs tomarão nossos empregos… e ainda bem que tomarão. Essa visão defendida por certos futuristas, embora seja uma avaliação técnica (e que está errada, já que inteligência artificial geral é possível), acredito que essa visão é influenciada por essa noção moral que menciono acima, de ver o emprego como algo nobre, pois como uma previsão técnica em relação ao futuro isto simplesmente não é baseado em fatos.

Ao meu ver é uma forma deles tranquilizarem as pessoas (e a si mesmos, talvez?) que acham o trabalho algo “moralmente belo e engrandecedor” ou de não entrarem em questões mais polêmicas em relação a mudanças mais profundas que esse tipo de automatização nessa escala causaria na sociedade, coisas como renda básica universal, por exemplo – que é muito mal vista em alguns países por ser considerado “uma medida socialista visando a implementação de uma ditadura comunista que valoriza o vagabundismo.

Mas acredito que pré-conceitos morais e políticos, e o próprio paradigma econômico-social atual, claramente interferem na “previsão” em relação ao futuro desses especialistas.

Para concluir, quando pensamos no futuro devemos quebrar essa ilusão que ensinamos a nós mesmos a ver e a acreditar. Devemos passar a ver o trabalho, no sentido atual, pelo que ele realmente é: uma necessidade triste que deve ser eliminada através de automatização numa escala jamais vista – a base de replicadores e inteligência artificial.

Há palavras como “passatempo” e “hobby”, mas todas estas trazem consigo um certo olhar menosprezante cheio duma moral falaciosa, meio que dizendo “você não ganha dinheiro com isso, então você não merece a alcunha de seja lá o que você esteja dizendo que é (artistas que o digam) – você não é um homem digno e você não é bom nisso, já que não ganha dinheiro realizando tal atividade”.

Devemos substituir o conceito de trabalho que temos hoje por “atividades que amamos, que nos esforçamos profundamente e que faríamos de graça”. Atividades que não nos importamos se há algo mais eficiente que nós, porque não estamos fazendo isso para os outros, estamos realizando tais atividades para nós mesmos, para a satisfação de nossos anseios criativos.

Ao contrário de tentarmos encaixar o conceito de trabalho que existiu até o presente momento num futuro pós-escassez, devemos demoli-lo. E devemos criar uma nova palavra para designar estas “atividades que amamos, e que nos esforçamos muito para sermos bons nelas e que faríamos até de graça, indiferente a motivações financeiras”.

Diário: 20/04/15

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Estava pensando sobre os abençoados que podem viver de arte, e de pesquisas científicas, e de atividades que no geral não necessariamente dão um retorno financeiro imediato.

No caso de pesquisas científicas, hoje em dia, creio que seja até mais fácil você conseguir financiamento, dependendo da sua pesquisa há bastante gente interessada nela. Já no caso da arte, ela se trata de algo muito subjetivo, é mais difícil você convencer alguém que aquilo vale algo.

Digo, muitas vezes essas pessoas que mudaram o mundo, que deixaram uma marca artística/histórica aqui foram pessoas que tinham alguém para sustentar eles, financeiramente falando, que tinham condições para poder dedicar tempo fazendo aquilo que amavam. O Van Gogh, por exemplo, ele era ajudado pelo irmão, porque ele simplesmente não ganhava dinheiro fazendo arte durante seu tempo de vida. Ninguém comprou seus quadros.

Talvez tenha existido um gênio com a genialidade de Bach, mas ele nasceu numa família pobre e nunca teve um piano. Ou talvez tenha existido um cientista com o intelecto de Einstein, mas que nunca foi ensinado a ler. E por ai vai.

Isto por consequência acaba entrando naquele ponto sobre o que poderia ter sido, sobre tudo aquilo que não foi, e que poderia ter sido, é “os poetas maiores que Keats e cientistas maiores que Newton” que Dawkins comenta naquele famoso discurso.

Então… se você pode viver de arte, considere-se um abençoado… porque realmente é.

Diário: 05/01/15

É lamentável que pessoas ainda tenham que desperdiçar tempo fazendo tarefas que não as engradece como ser humano. Todos os caixas de supermercado, todos os trabalhos mecanizados, todos os empregos em linhas de produção fordistas que poderiam facilmente ser feito de maneira totalmente automatizada, todo trabalho sem alma… É triste que a maioria de nós ainda sejamos escravos de tal banalidade.

Infeliz

Eu estou infeliz. Eu estou infeliz porque eu não consigo achar um emprego. Eu estou infeliz porque minha família não aceita que eu use roupas de garota, eu estou infeliz por estar aqui desperdiçando tempo. Me sinto preso numa situação que não sei como sair dela. Sinto que toda vez que eu tento sair, eu acabo sendo puxado de volta, acabando no mesmo lugar onde estava. As vezes sinto que me matar é a única forma de sair disso, de sair….