Será que a internet é ruim – em parte – por culpa dos usuários?
Tem aquela famosa frase “me diga os incentivos e eu te direi os resultados”. Se o usuário não está pagando diretamente, seja por meio de assinaturas ou por doações, ele certamente é o produto. O único modelo de negócios restante aqui sendo então a publicidade (ocasionando necessariamente numa redução da experiência de uso) e na venda descarada de informações (o que é um desastre na questão da privacidade).
No fim do dia, toda a cadeia de incentivos da maioria dos sites e redes sociais joga absolutamente contra o usuário: as pessoas querem ter acesso a milhões de vídeos de graça, as pessoas querem ganhar para fazer vídeos, e a empresa dona da plataforma quer ganhar em cima de todo mundo. O resultado disso sendo infinitos anúncios antes de você assistir 1 vídeo.
E aqui seria fácil simplesmente chamar as empresas de gananciosas, o que também é verdade, mas vivemos no capitalismo e é isso o que elas sempre vão fazer, todos os incentivos sempre vão estar nessa direção. Fora que, se o modelo de negócios principal da plataforma não provêm de assinaturas, isso certamente não gera incentivos, não colabora, não contribui na direção da empresa melhorar a experiência para o usuário ou não vender seus dados.
E já consigo ouvir você digitando aí “Oh, mas se pagar eles também podem te ferrar”, e se não pagar – seja por meio assinaturas ou de doações – você está garantindo que o único caminho é te dar a pior experiência de uso imaginável e mostrando-te o máximo de anúncios possível, pois não há nenhum incentivo na outra direção.
Mas, tudo bem, admito que à essa altura a confiança já foi abalada, e que isso de modo algum significa que uma plataforma será perfeita, mas no geral, se você comparar uma plataforma onde o usuário não está pagando e outra onde ele está pagando para usar, a segunda tende a ter uma experiência melhor (compare a experiência de uso da Netflix, onde a pessoa paga, com a do YouTube).
Ao mesmo tempo, um site fechado onde quem não pagasse não pudesse acessar, evidentemente não seria nada desejável. Creio que seria interessante uma rede social administrada por uma fundação sem fins lucrativos (algo como o Internet Archive) porque essa “cultura de crescimento infinito” também é um incentivo negativo que joga contra o usuário mesmo quando ele já está dando dinheiro para uma empresa.
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