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As Limitações Esquecidas


Foto da Terra tirada em 30 de Maio 1966 pela sonda soviética.

Nós não tivemos que esperar tanto. Muitas de nossas heranças e tesouros simplesmente estavam lá. E nós tomamos como garantido que sempre estiveram e nós tomamos como garantido que as dificuldades técnicas eliminadas no passado… nunca sequer existiram.

Olhamos uma fotografia da Terra, alguma entre as milhares já tiradas desde outubro de 46. E não pensamos em todo o Zeitgeist, em todo o “espírito do tempo” daquelas épocas e pessoas que esperaram o futuro existir, ou que morreram o esperando, ou que nasceram cedo demais.

Nós ignoramos e não levamos em conta isso. Nós vemos vídeos de Isaac Asimov falando sobre a internet, e sobre como ela revolucionaria tudo. Vemos textos de pessoas falando sobre quão poderoso seria a epifania provocada por uma foto da Terra vista do espaço. E nascemos num mundo pós-ida à lua com computadores que cabem em nossos bolsos.

E nós sonhamos com o futuro e filosofamos sobre ele. E há uma grande aura de novidade e mistério, com que os transhumanistas e futurólogos sonham.

“Caramba, e quando for possível irmos até Marte?”

E as pessoas daqui a, seja lá quantos anos for, simplesmente tomarão como garantido esses avanços e se esquecerão, ainda que num nível subconsciente, que um dia existiu toda uma sociedade que viveu e morreu antes disso.

O que me fez refletir sobre esse assunto foi um filme, contando a história do julgamento do nazista Adolf Eichmann, que foi televisionado no começo dos anos 60. E, obviamente, a internet não existia ainda, nem tão pouco comunicações televisivas via satélite, de modo que as fitas das gravações eram mandadas de avião para seus destinatários.

É disso que eu estou falando, uma profunda complexidade e limitação técnica da época foi completamente eliminada hoje em dia. Num mundo onde qualquer um pode fazer uma live-streaming de seu quarto transmitindo para milhares, ou até mesmo milhões, de pessoas. É difícil se lembrar dos grandes dilemas do passado. É como se eles jamais tivessem existido.

Do mesmo modo que um dia será difícil para as pessoas se lembrarem de quando as viagens interplanetárias ainda não eram uma realidade, ou de quando se vivia apenas no máximo 120 anos. Será o tipo de pergunta e questionamento que historiadores e arqueólogos farão no futuro.

Aliás, há uma cena fantástica no filme Mr. Nobody que… ilustra esse deslumbramento sobre quão estranho é o fato de que a vida era diferente em tempos que não mais existem:

“Como era quando humanos eram mortais?”

… pare este mundo você não existe

Talvez seus pais nunca tenham se conhecido. Talvez seu pai tenha morrido em um acidente. Talvez você tenha sido mais um da grande maioria, cujo código genético não chegou ao seu destino final. Talvez quando uma mulher pré-histórica morreu, sua linhagem tenha desaparecido da humanidade. Então, para esse mundo… você não existe.

Mr. Nobody (2009)

Eu não tenho…

– Eu não tenho nada para te dizer. Eu sou um Sr. Ninguém, um homem que não existe.

– Você se lembra como era o mundo antes da telemerização? Quase-imortalidade? Como era quando os humanos eram mortais?

– Haviam carros que poluíam. Nós fumávamos cigarros. Nós comíamos carne. Nós fazíamos tudo que podíamos nesse aterro, e era maravilhoso! Na maioria das vezes nada acontecia…. como um filme francês.

– E, hum, sexualmente? Antes do sexo se tornar obsolete?

– Ha, ha! Nós fudiamos! Todo mundo estava sempre gritando. Nós nos apaixonávamos… nós nos apaixonávamos.

Mr. Nobody (2009)

Mr. Nobody – Quando é Simplesmente Melhor não Escolher

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Existem certos filmes que nos marcam, que vamos nos lembrar para vida toda. E Mr.Nobody” um destes filmes para mim. Bem, primeiramente gostaria de dizer que este texto não se trata de uma sinopse, ou um resumo do filme, e sim de minhas conclusões desta obra, então, recomendaria você assistir o filme antes de ler meu texto.

Creio que se tivesse que resumir o “Mr.Nobody” numa frase só, esta frase seria: “É m filme sobre escolhas.”

Sobre como é difícil escolher, e principalmente como algumas escolhas tem consequências que jamais poderíamos prever, para o bem ou para o mal, e de como… enquanto você não escolhe, tudo é possível, como Nemo mesmo diz:

“Nós não podemos voltar. É por isso que é tão difícil fazer uma escolha. Você tem que tomar a decisão correta. E enquanto você não escolhe tudo é possível.”

Ou seja, quando confrontados com uma escolha, enquanto você não escolhe, todas as portas continuam abertas. Todas as possibilidades continuam existentes. A obra se baseia exatamente nesse conceito, abortando as diferentes consequências que uma única escolha desencadeia em nossas vidas. Um efeito borboleta.

É um filme sobre aqueles 5 minutos que você chegou atrasado à estação do metro e que te impediram de conhecer a mulher da sua vida, ou sobre aquele voou que você não embarcou, pois estava com uma grave resfriado, e que acabou explodindo no meio do oceano atlântico deixando 126 mortos.

Sobre o que uma criança faz quando colocada numa situação aonde ela tem de fazer uma escolha impossível, onde não importa qual escolha seja feita, ela sofrera do mesmo jeito. E o mais importante, sobre o que uma criança faz pra escapar disso.