Diário: 25/04/2023

“Mulheres no Xadrez: Não é biologia”

Qual é a causa então? Se você vai culpar “a sociedade e o sexismo”, pelo menos o número de jovens mestres enxadristas homens e mulheres deveria ser aproximadamente igual em países como Finlândia, Noruega, Suécia, etc, e outros bastiões do progressismo, e isso não é o caso. Mas tenho certeza de que eles vão dizer algo como “Oh, nem mesmo a Suécia é progressista o suficiente para se livrar do malvado sexismo institucional que impede e desencoraja mulheres de jogar xadrez”.

O argumento me lembra aquela ladainha de “Oh, não era comunismo de verdade…”, sempre que algum país comunista fracassa…Hoje em dia, infelizmente, em nome de não ofender ninguém se verdades óbvias.

Claro que isso não é motivo para tratar mal ou menosprezar ninguém, mas isso também não é um fato a ser negado, porque negar isso é negar a realidade. Nos dias de hoje infelizmente as pessoas pararam de dizer a verdade para não ofender os outros.

Sobre o Declínio da Internet e Afins…

Cada dia mais tenho a impressão de que boa parte das opções úteis de programas de computador já existia há 20 anos, e nas últimas duas décadas tudo o que temos visto é a remoção delas, a substituição por uma versão piorada das mesmas, e por último a implementação de certas features de necessidade duvidosa.

Por exemplo, nem sou veementemente contra a ideia de anotações na barra lateral, pode ser uma feature “bacana” para algumas pessoas (embora eu honestamente não ache isso útil,  se você está fazendo tantas observações em um site, você provavelmente deveria criar um arquivo de texto sobre o conteúdo daquele site…), enfim… não teria problemas se esse fosse apenas algum extra para usuários com um fluxo de trabalho incomum. Mas quando você olha e vê o estado da barra lateral do Chrome de modo geral, e quão porca e limitada é a implementação dela, a implementação de coisas como o Histórico e Favoritos, onde simplesmente não existe opção para você pesquisar rapidamente lá… você se pergunta se eles não deveriam focar mais em copiar os navegadores de 20 anos atrás.

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Num mundo onde a arte é barata, ainda precisamos de copyright?

“In A World Where AI Art Is Cheap And Easy To Generate, Do We Still Need Copyright?”

Este é um ponto muito interessante levantado pelo artigo linkado acima, que tenho me perguntado ultimamente. Antes de qualquer coisa é necessário entender que quanto mais abundante uma coisa é, menos valor – economicamente falando – ela tem.

Acredito que uma grande razão para a fragmentação de serviços de streaming de vídeo, com conteúdo sendo distribuído em inúmeras plataformas e programas exclusivos vinculados a apenas um determinado site, em comparação com a música, onde mais ou menos todas as canções estão nos mesmos serviços de streaming (quero dizer, não é como se apenas um serviço tivesse acesso ao catálogo dos Beatles)

É porque simplesmente há mais música disponível, boa música, música com a mesma qualidade em comparação ao que ocorre com vídeos. É mais barato produzir um álbum do que gravar um filme. De modo que o catálogo do IMDB tem cerca de 700.000 filmes, enquanto o Spotify tem 100 milhões de músicas em seu banco de dados – 200 vezes mais. Obviamente isso torna as músicas um ativo menos valioso do ponto de vista econômico, elas se tornam algo como uma mercadoria, como açúcar, arroz, feijão, etc …

Os direitos autorais não cobrem a ideia geral de algo, mas apenas uma execução específica daquilo. Então, o que acontece em um mundo em que qualquer um pode fazer um zilhão de filmes como Star Wars, todos tão bons quanto ele? Um mundo onde qualquer um pode pegar alguma obra consagrada, colocar ela num “Video2Video”, e modificar a obra apenas o suficiente para não violar os direitos autorais?

Sem mencionar os efeitos práticos: o fato de que essas tecnologias permitiriam que qualquer pessoa fizesse sua própria versão de fã duma determinada obra, ainda que ilegalmente, e simplesmente compartilhasse aquilo num torrent da vida. E, ao contrário do que acontece hoje em dia, onde, se você quisesse fazer uma versão de Star Wars… Primeiro que a Disney processaria sua empresa até ela quebrar antes que qualquer cena fosse filmada (e o fato de que um filme geralmente depende de várias pessoas/empresas para existir, só adiciona mais peças móveis para a Disney facilmente interromper com ações na justiça), e, claro, isso somado o fato de você não ter 0,001% do dinheiro que a Disney teria para investir no seu filme.

Mas o que acontece quando você pode simplesmente criar sua própria versão e postá-la online, assim como fez o DJ Danger Mouse, que remixou o “Grey Album” dos Beatles e o postou na web – e uma vez que está na internet, está lá para sempre.

Não direi que os direitos autorais morrerão, mas acho que as coisas definitivamente mudarão, porque, em última instância estamos falando aqui de uma máquina que é capaz de produzir qualquer filme ou imagem que você quiser. É essencialmente um gerador infinito de filmes  que as pessoas vão poder ter à sua disposição.

Isso fundamentalmente mudará completamente a forma como consumimos cultura.

Diário: 06/04/2023

Homem mata quatro crianças e fere outras em ataque a creche em Blumenau

Todo mundo quer praticar a sua vingancinha mesquinha contra a sociedade, contra o mundo e afins. E você não sabe o que fazer, e não tem muito o que você possa fazer, não há uma garantia. Você pode olhar ao atravessar a rua, você pode trabalhar bastante e se mudar para um bairro bacana, se mudar até para um país mais seguro do outro lado do mundo, você pode ver o que tem mais chance de dar errado, e qual a probabilidade  de aparecer algum maluco e tentar diminuir os riscos disso acontecer. Mas não há garantias, mesmo em lugares seguros como o Japão e afins, ainda há chance de algo dar terrivelmente errado e você ter a vida que passou décadas construindo destruída porque cruzou uma esquina do outro lado do mundo na hora errada… e encontrou um monstro.

Quem mata uma vida, mata o mundo inteiro.

Diário: 04/04/2023

“Obras criadas por IA não podem ter direitos autorais, diz escritório dos EUA”

Se a IA arte criada via “prompt” não é passível de proteção de direitos autorais porque “é apenas um resultado mecânico previsível” ou porque “falta envolvimento/técnica”, a fotografia também não deveria ser passível da mesma proteção.

Primeiro, qualquer um pode tirar uma foto, e mesmo que você aperte um botão sem esforço algum e fotografe a parede do seu quarto, aquela foto é elegível para direitos autorais, de acordo com a lei atual.

Segundo, pegue a foto do início do post, por exemplo: essa imagem provavelmente tem direitos autorais, mesmo que teoricamente qualquer um pudesse recriá-la. Você poderia sair e comprar o mesmo sofá, o mesmo espelho e outros objetos nesta imagem, recriar a mesma iluminação e afins, até o ponto em que você tivesse uma imagem essencialmente idêntica.

Fazendo uma analogia, seria como usar o mesmo “prompt/número de seed/modelo/demais parâmetros” no Stable Diffusion para recriar uma cópia exata duma imagem. A única diferença aqui é que você está fazendo isso no mundo real com objetos reais.

Meu ponto é que a curadoria de arte e decidir o que você vai querer selecionar entre toda a arte possível imaginável já é uma expressão artística por si só. Ela desempenha um papel na fotografia e desempenha um papel na arte gerada com o auxílio da IA também.

Não estou necessariamente apoiando os direitos autorais como conceito, acho que têm muitos problemas, só não vejo nenhum sentido em fazer uma distinção dizendo que a IA art seria menos merecedora da proteção dos direitos autorais do que, por exemplo, a fotografia.

Diário: 02/04/2023

Há alguns dias meu irmão acabou encontrando, por acaso, um amigo da época da adolescência. Na verdade, foi o amigo que encontrou ele, o cara reconheceu meu irmão. Ambos tinham tocado brevemente em uma daquelas bandas de garotos que acaba não dando em nada, provavelmente por volta de 2006. O amigo dele tinha virado mendigo, disse:

“E aí, cara? Sou eu, fulano de tal. Nós tocamos juntos naquela época.”

Ele até se lembrou de uma música que meu irmão havia composto. Meu irmão ficou bastante abalado depois disso. Parece que o cara teve uma vida difícil, se é que você me entende. A mãe morreu quando ele era pequeno, não havia pai na parada, acabou sendo criado por uma tia, se envolveu com drogas e as coisas saíram terrivelmente fora do controle, imagino.

Fiquei pensando aqui, mesmo ouvindo meu irmão contar, eu, que nunca conheci o cara (mas imaginei ele como Steven Hyde  do  “That ’70s Show”), já me senti desconfortável e inquieto. Não posso nem imaginar como deve ter sido estranho, desconfortável e profundamente inquietante para ele ver isso. Vemos essas pessoas nas ruas, e é bizarro pensar que essa pessoa sem-teto, que todo mundo está ignorando um dia foi um bebê. Se você visse um bebê na rua, as pessoas iriam querer ajudar, mas ninguém liga para um mendigo.

É claro que a maioria das pessoas que estão vivendo nas ruas têm algum problema, seja mental ou alguma dependência química severa. No geral, são pessoas que infelizmente queimaram as poucas pontes que tiveram na vida. Então, é complicado tentar ajudá-las individualmente. Além disso, uma vez que você entra em uma situação ruim, como viver nas ruas, fica cada vez mais difícil sair disso. Existem abrigos para sem-teto, mas muitos deles têm regras, como você só poder entrar se chegar antes de uma certa hora, e assim por diante, além de você não poder entrar lá com drogas e tudo mais, o que tende a fazer com que muitos sem tetos não procurem abrigos.

Além disso, a estrutura de serviços sociais nesse país é terrível, o governo não consegue nem sequer oferecer moradia para o cidadão que não é mendigo e paga impostos. Não é como na Finlândia, onde o governo tem meios e redes de segurança social para ajudar melhor essas pessoas…