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Porque eu não gosto de celulares…

Não, eu não sou nenhum ludista contra a tecnologia. Fundamentalmente, não sou lá muito fã desses dispositivos por 3 razões, todas elas muito justas em minha modesta opinião:

  1. O software deles é, de maneira geral, muito mais limitado. É algo bobo, mas, para ilustrar meu ponto, a maioria dos navegadores mobile não suporta extensões. Sim, sei que há exceções, como o Firefox, mas mesmo este, sua versão mobile ainda é consideravelmente mais restrita em comparação com a do PC, não suportando, por exemplo, containers. E isso está longe de ser algo exclusivo do Firefox ou dos navegadores. Pelo contrário, você vai notar essa cultura de design, ainda hoje em pleno 2023, em toda a filosofia de software mobile. Logo, comparando o que posso realizar sentando em frente ao meu computador com o que consigo fazer no celular, é frustrante ver quão limitado eu sou.
  2. A interface é restrita demais devido ao seu tamanho compacto. Não há muito o que fazer quanto a esse ponto, porém apesar de justificável, isso me impede de notar o quão mais rápido consigo interagir com o computador ao digitar em um teclado e usar meu mouse com 20 botões, e como a experiência é mais limitada ao utilizar o celular, limitado por uma tela touchscreen.
  3. O terceiro e último problema, que pode ou não ser um pouco de preguiça de minha parte, seria a dor de cabeça ao ter que manter dois dispositivos mais ou menos sincronizados. É como ter um carro e adquirir uma moto porque você consegue levar ela em certos lugares onde não dá para levar o carro.

Não significa que rejeito completamente o conceito de dispositivos mobile-friendly. Muito pelo contrário, idealmente, e este é um grande sonho meu, sempre achei empolgantes ideias como o Dex, onde você tem um único dispositivo que, quando conectado a uma dock, se transforma em um computador completo. Imagino um celular que, ao ser conectado a uma base de notebook, o sistema operacional se adaptaria automaticamente.

A Samsung e outros brincaram com essa ideia, porém suas implementações nunca foram lá grande coisa, sempre deixando muito a desejar, nunca fazendo parecer que o sistema operacional estava realmente se adaptando a uma tela maior e um suporte de teclado e mouse.

Óculos de realidade eventualmente substituirão os celulares (e até mesmo os PCs como os conhecemos), mas acredito que não conseguiremos, ao menos tão cedo, dominar o processo de miniaturização a ponto de tudo caber em um óculos portátil. De modo que a combinação “dock de notebook e celular”, que de fato nunca deu muitos frutos, acabe, na verdade, sendo “óculos de realidade virtual e celular”.

Quero dizer, acredito que muito provavelmente o primeiro óculos de VR portátil popular dependeria de algum dispositivo externo local para o processamento de dados a serem enviados para o display no seu rosto, talvez um… celular?

De qualquer forma, ainda acredito e alimento a esperança no conceito do dispositivo único. Principalmente com a eventual popularização de óculos de realidade virtual portáteis, onde a fronteira entre dispositivos mobile e desktop se funde cada vez mais. Ou seja, em tal dispositivo, sua área de trabalho poderia ser um monitor de 30 polegadas projetado em seu campo de visão, na verdade, poderia ser até mesmo todo o seu campo de visão.

Dessa forma, considero que no futuro sistemas operacionais evoluam cada vez mais nesse sentido, tornando-se mais responsivos em diferentes resoluções, mais completos e capazes, essencialmente se tornando adaptados a realidade virtual/aumentada: do terminal aos 360º.

Sobre o Declínio da Internet e Afins…

Cada dia mais tenho a impressão de que boa parte das opções úteis de programas de computador já existia há 20 anos, e nas últimas duas décadas tudo o que temos visto é a remoção delas, a substituição por uma versão piorada das mesmas, e por último a implementação de certas features de necessidade duvidosa.

Por exemplo, nem sou veementemente contra a ideia de anotações na barra lateral, pode ser uma feature “bacana” para algumas pessoas (embora eu honestamente não ache isso útil,  se você está fazendo tantas observações em um site, você provavelmente deveria criar um arquivo de texto sobre o conteúdo daquele site…), enfim… não teria problemas se esse fosse apenas algum extra para usuários com um fluxo de trabalho incomum. Mas quando você olha e vê o estado da barra lateral do Chrome de modo geral, e quão porca e limitada é a implementação dela, a implementação de coisas como o Histórico e Favoritos, onde simplesmente não existe opção para você pesquisar rapidamente lá… você se pergunta se eles não deveriam focar mais em copiar os navegadores de 20 anos atrás.

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Interfaces Gráficas e o Futuro dos Celulares e Notebooks

Já escrevi aqui no blog sobre a convergência entre as plataformas mobiles (celulares e tablets) e plataformas tradicionais (desktops e notebooks).

Entretanto, achei que valia a pena analisar um pouco mais a fundo a trajetória de ambos, para termos uma ideia melhor de como eles surgiram e como dispositivos, que até então existiam em ramos e universos distintos, acabaram se cruzando cada vez mais. E principalmente, analisar a evolução e eventual convergência de ambas as plataformas e de suas interfaces gráficas.

O computador pessoal surge com sua pouca mobilidade e, principalmente, surge com suas linhas de comando pouco amistosas, e intimidadoras, até a invenção das primeiras interfaces gráficas, que possibilitaram meros mortais como você e eu usarmos ele de forma intuitiva. E eles, e isso é importante, com exceção dos primeiros computadores industriais construídos sob medida para tarefas específicas, sempre possuíram a ideia de propósitos gerais, de você programar o computador para poder fazer “qualquer coisa”. Continuar lendo Interfaces Gráficas e o Futuro dos Celulares e Notebooks

Do ENIAC ao Hololens e Além


Os computadores estão ficando cada vez mais, literalmente, perto de nós. Há 70 anos eles ocupavam o tamanho de uma sala, era o tipo de coisa que só grandes empresas, universidades, e o governo, é claro, tinham. Sem falar nas limitações técnicas de tais máquinas, obviamente.

Avancemos 30 anos, surge o PC, a revolução do computador pessoal, pessoas comuns podiam ter um computador em suas casas. Ele havia saído daquelas grandes salas e adentrado em nossas casas, mas você ainda não podia sair com ele, não podia levá-lo num piscar de olhos para onde quer que fosse. Novamente, avancemos mais uns 15, 20 anos, temos os notebooks, o computador já era mais portátil, podíamos sair com eles por aí.

Avancemos mais uns 10 anos, temos o primeiro iPhone, lançado em 2007, que marca a revolução da transformação do celular num computador de bolso que, com o passar do tempo, ficaria quase tão poderoso quanto nossos computadores pessoais.

Sendo sua maior limitação o tamanho da tela apenas que, por ser muito pequena, restringe a quantidade de informação que pode ser exibida, e o tamanho do teclado touchscreen, que limita quanta informação pode ser introduzida. Ou seja, basicamente é um problema relacionado ao “output device” (tela) e ao “input device” (teclado touchscreen). Uma limitação dos dispositivos de saída e entrada de dados.
Hololens sendo usado para projetar area de trabalho em realidade aumentada.
Avancemos mais uns 10 anos, chegando assim ao presente, começamos a ver coisas como Hololens e Magic Leap, dispositivos – computadores – que projetam a imagem diretamente em nosso campo de visão. O tamanho da tela começa a não ser mais um problema, pois a tela é todos os 360° de seu campo de visão. De modo que o seu computador, a sua área de trabalho, as suas 20 abas no Google Chrome vão estar onde quer que você esteja. E a opacidade do ambiente ao seu redor poderá ser aumentada ou diminuída conforme a necessidade, como um layer do Photoshop.
Programa
Avancemos mais uns 10 ou 20 anos e começaremos a presenciar o aperfeiçoamento e a miniaturização desses dispositivos que farão os óculos de realidade aumentada de hoje em dia parecerem os celulares dos anos 80. Os reduzindo, quem sabe, ao tamanho de um óculos comum ou, quiçá, ao tamanho de uma lente de contato.

E por último, avancemos mais uns 10 ou 20 anos e começaremos a talvez ver dispositivos baseados em interfaces cérebro-máquina (brain-machine interface), que lhe permitirão interagir com essa interface gráfica diretamente através de seus pensamentos. Ao ponto de que pensarmos em computadores como algo “separado” de nós não fará mais sentido. Hoje em dia mesmo já não faz, aliás.

Muito além disso representar apenas uma aproximação, uma fusão entre computadores e humanos, isso representa um mundo cada vez mais baseado em bits e bytes. Representa uma eventual, e de certo modo, inevitável, transmutação de um mundo natural para um mundo digital – um mundo virtual.

O Acaso, o Infinito e a Criação – E o Teorema do Macaco Infinito

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Sempre achei fascinante o conceito do infinito e da aleatoriedade, pois quando aplicamos uma aleatoriedade infinita num experimento, eventualmente conseguimos qualquer resultado possível. Explico:

Se existissem universos paralelos infinitos, eventualmente existiria algum universo que é, por exemplo, praticamente igual a esse nosso… porém, no qual você tem cabelo verde, sabe falar russo e tem uma tatuagem do Michael Jackson que você fez quando tinha 15 anos.

E é basicamente essa a ideia. Aliás, de fato, nesse exemplo existiriam infinitos universos idênticos a esse que descrevi. Tem um ótimo desenho animado, chamado “Rick And Morty”, no qual num episódio eles brincam com esse conceito de forma genial.

Outro fato interessante é pensarmos em dados digitais. Quero dizer, todas as nossas músicas, imagens e vídeos são apenas uma combinação de 0 e 1, são apenas uma entre o finito número de combinações possíveis na qual aqueles dados poderiam estar organizados num arquivo com aquele determinado tamanho.

Então, se criássemos um programa que gerasse arquivos digitais de modo aleatório, e deixássemos ele funcionando pela eternidade, ou por uma quantidade tremendamente grande de tempo… eventualmente ele geraria o arquivo digital do filme “Forrest Gump” em 8K, por exemplo. Recomendo enormemente vocês assistirem esse vídeo do canal do Youtube, “Vsauce”, no qual ele aborda ligeiramente esse tema.

Existe um teorema bastante famoso que fala sobre esta questão da aleatoriedade, “O Teorema do Macaco Infinito”, que até onde se tem registros foi proposto por um matemático francês chamado Émile Borel em 1913 (embora o conceito da ideia já existisse desde a antiguidade). Em tal teorema, Borel alega que um macaco escrevendo aleatoriamente numa máquina de escrever por toda eternidade… eventualmente escreverá um clássico da literatura.

Ele, eventualmente, em algum momento vai apertar os botões da máquina de escrever na exata mesma ordem em que H. G. Wells apertou quando escreveu “Guerra dos Mundos”.

Um outro exemplo muito interessante, em relação a aleatoriedade e livros, é o site “Library of Babel”. Basicamente, o site possui um algoritmo que gera aleatoriamente qualquer mensagem de 3200 caracteres possível. E o fascinante é que você pode digitar uma mensagem com esse número de caracteres, e fazer uma busca reversa, e ver em que página do livro ela estaria. E você pode ir lá na parte indicada e ver que a sua mensagem estará lá.

Se você quiser entender melhor, recomendo este artigo “Virtual Library of Babel makes Borges’s infinite store of books a reality – almost”, e também este outro vídeo do Vsauce, falando a respeito da preservação de nosso acervo cultural, no qual ele acaba falando sobre esse site.

Esses tipos de algoritmos e exercícios mentais nos trazem um questionamento muito grande sobre aquilo que nós “criamos”, sobre nossas poesias, fotografias, filmes e tudo mais. Um sentimento de… eu diria, uma certa dissociação de nossas obras. Algo como:

“Eu não criei este texto, de fato. Eu apenas produzi uma versão possível da combinação limitada na qual estas 26 letras deste alfabeto, contando os espaço e demais sinais e pontuações, poderiam estar organizados neste espaço de 70.000 caracteres. Um computador poderia gerar esse mesmo texto se lhe déssemos tempo, poder de processamento e memória o bastante.”

Porém… talvez o simples fato de nós “termos trazido estes textos à luz do dia”, já seja uma forma de arte. Quero dizer, suponhamos que tivéssemos uma pasta num computador com todos os possíveis livros de 40 mil caracteres, escritos no alfabeto latino, dentro dela.

Obviamente, seria uma quantidade tremendamente absurda de documentos (recomendo este post aqui no reddit, no qual eles discutem a matemática dessa questão). Porém, do que adiantaria termos a informação se não temos nenhum índice, ou forma de analisar tais dados em massa, para determinar o que queremos encontrar? Aliás, como sabemos o que iriamos querer encontrar? Nós iriamos digitar:

 “Ache algo parecido com ‘Harry Potter’.”

E isto é interessante, e acaba nos levando pra outra discussão: sobre como ter a uma quantidade muito grande de dados (Big Data), sem ter as ferramentas pra filtrar aquilo que é de nosso interesse, acaba sendo um problema. Aliás, hoje mesmo na internet, enquanto ferramentas como o processamento natural de linguagem não avançam, nós ainda nos deparamos muito com esse problema. Navegamos por entre pilhas de assuntos que não tem nada a ver com o que realmente estamos querendo, até encontrarmos aquilo que de fato nos interessa.

Então, de certo modo nós categorizamos, e tornamos importante a informação ao simplesmente retirá-la desta pilha infinitamente gigantesca de “dados teoricamente possíveis” quando “criamos” aquela informação, e isto talvez seja tão importante quanto a ideia tradicional de que “as ideias precisam de nós pra existir”.

E por fim, toda essa discussão nos leva também àquele velho debate sobre:

“O que é arte?”

Alguns alegam que é necessário uma intenção na criação de arte. Que é necessário que uma mente senciente tenha dado um propósito a mesma. Que não se trata de como ela é percebida, e já que neste exemplo o computador não está senciente ao longo do processo, “isso não é arte”.

Bem, eu discordo totalmente. Imagine se o “Forrest Gump” tivesse sido descoberto, ou, para usar a linguagem tradicional, “criado”, por um destes algoritmos, baseando-se apenas na aleatoriedade. Ele seria menos arte? Ele comoveria menos as pessoas? De modo algum.

Como mencionei acima, de certo modo, mesmo em tal situação, ainda teria sido necessária uma mente decidindo tornar tal achado público, jogar uma luz nele.

Podemos comparar com a fotografia, aliás. Um fotógrafo não cria uma cena, ele apenas a captura, a congela, a seleciona. Transmuta em algo existente um momento que seria obscurecido. Ele a separa de todas as outras cenas que não foram fotografadas. Ele lhe traz à existência, e portanto lhe torna importante.

Então, podemos dizer que a simples seleção nossa, de uma arte gerada por um computador, já faria ela de certo modo uma obra artística. Isso, é claro, para aqueles que defendem que a arte precisa ter uma “senciência autoral” de parte de seu criador. O que eu discordo completamente.

Creio que tudo isto nos faz refletir sobre a ideia de Platão, da “Teoria das Ideias”. De que as ideias já existem por conta própria, e nós apenas trombamos com elas nos becos da vida, e as trazemos à luz do dia.