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O Progresso Econômico Como Criador de Direitos


Na prática, os direitos advêm dos interesses dos grupos com poder de ação numa sociedade e acima de tudo: advém duma realidade que permite que eles existam e que sejam mais ou menos postos em prática. O que quero dizer com isso?

Por que escravidão e o trabalho escravo infantil acabaram em boa parte do mundo? Porque temos tecnologia para isso. É simples assim. E nos países onde você tem crianças de 5 anos trabalhando extraindo minérios… estas são todas nações pobres sem progresso industrial onde não tem condições daquele direito, daquela lei, ter alguma manifestação real.


Gosto muito do conceito da “Pirâmide de Maslow”. Ela ilustra basicamente as necessidades primordiais do ser humano. Na base da pirâmide estão coisas como “fome” e “segurança”, no topo estão “realização pessoal” e “autoestima” – dilemas que você só consegue se preocupar quando suas necessidades básicas estão supridas.

A criação de direitos, e mais precisamente a materialização desses direitos em algo tangível (afinal, um Estado Falido como a Somália poderia escrever num pedaço de papel dizendo que a população tem “direito” a saúde e isso não materializaria hospitais num passe de mágica), enfim… a realização desses direitos obedece uma lógica similar: sociedades presas nos primeiros níveis da pirâmide terão “menos direitos” e sociedades mais avançadas industrialmente e tecnologicamente terão “mais direitos” porque seu avanço técnico-científico permite que tal ocorra.

Por exemplo, conforme avanços em simulações de medicamentos em modelos animais e carne sintética criada em laboratório forem se tornando realidade (dois dos principais usos de animais pelo homem), a noção da existência de um “direito à vida” dos animais tende a se tornar mais e mais normalizada até o ponto de ser aceita como um direito pela maioria de nós. Menos por nos importarmos com o sofrimento animal, embora a maioria das pessoas realmente não goste de ver o animal sofrer, mas sim porque a tecnologia chegou num ponto onde não precisamos mais matar animais para testar medicamentos, comer carne, etc…

Na prática, esse texto é essencialmente uma continuação de meu artigo anterior sobre como a tecnologia molda a existência humana. No fim do dia é isso que está acontecendo, aqui estou falando especificamente sobre direito, mas poderia ser sobre inúmeros outros aspectos: nossos hobbies, nossa imaginação, até mesmo nossa sexualidade.

O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA

SDXL / Katsuhiro Otomo

Procurando por soluções em todos os lugares errados.

Essa atual revolta contra a inteligência artificial vinda de trabalhadores intelectuais ensinou a qualquer um prestando atenção mais sobre o ludismo do que muito livro de história por aí. Nos ensinou até um pouco além, não só sobre o ludismo, e a cegueira antitecnologia, mas sobre o desprezo pelo homem comum vindo de certos grupos. Ensinou:

1) Uma soberba duma elite de trabalhadores intelectuais que, no fundo, sempre olhou de cima para o “chão de fábrica”. Gente que essencialmente se achava melhor que os outros por ganhar a vida “fazendo arte”. Isso essencialmente colocou um cheque de humildade neles. Não à toa, entre as críticas papagaiadas pelos becos do twitter é comum ouvir algo como “Oh, eles deveriam automatizar o trabalho repetitivo, chato, bruto, o trabalho sem propósito, o trabalho inútil, o trabalho para gente burra (embora não digam isso em voz alta), etc, etc, não o nosso trabalho especial e encantado”, o que por si só é uma frase desprezível.

Se você precisa do trabalho, ele tem um propósito, o propósito dele é te sustentar. Dizer automatizem trabalho X, Y, Z, é simplesmente dizer, da forma mais cínica e debochada possível “automatizem o trabalho dos outros e não o meu”. Continuar lendo O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA

Cadeias de Produção e o Cinema

É interessante pensar em como o processo de produção de um produto evolui tanto a um ponto em que é até difícil de se imaginar como se fazia aquilo, a um ponto de que os atuais especialistas e profissionais em torno daquilo, muito embora consigam produzir um resultado melhor, não conseguiriam fazer igual antigamente.

Assistindo o documentário “Light & Magic” sobre a história dos efeitos especiais, mais especificamente sobre o time de artistas que criaram os efeitos do Star Wars, percebe-se todos os efeitos práticos de cenas de batalhas espaciais, coisas que hoje em dia seriam criadas num Blender da vida ou numa Unreal Engine, ou alguma outra ferramenta gráfica de renderização 3D rodando em modernos computadores. Continuar lendo Cadeias de Produção e o Cinema

Diário: 31/01/2021

A situação com o coronavírus exacerbou vários problemas sistêmicos na sociedade. Bem, para começo de conversa, antes mesmo da pandemia você já tinha, em grande parte do mundo, um sistema de saúde precário ou simplesmente inexistente. Não só um sistema de saúde precário, mas uma rede de serviços sociais igualmente precária ou inexistente.

O que eu estou querendo dizer aqui é que mesmo antes da pandemia as pessoas estavam vendendo a janta para comprar o almoço, todo mundo estava no limite, vivendo de trampo em trampo, ou como os gringos dizem “living from paycheck to paycheck”. Sempre com zero margem para caso (quando) algo dê errado. Uma legião de autônomos, pequenos empresários e por aí vai. Todo mundo na corrida dos ratos, na correria…

Enfim, tudo isso antes do coronavírus, veio esse vírus e destruiu uma sociedade colada com presa com crepe que malemá estava se segurando…

Arte, Economia e a Realidade


Um artista é, por definição,
um sonhador por natureza…

Alguém que transmuta algo do mundo das ideias, onde tudo é possível para nossa mundana realidade, com todos os seus defeitos e limitações. Mas, tem esse detalhezinho chato em relação a sonhos… eles não existem, ao menos não ainda. Não precisam obedecer a nenhum limite, não precisam se conformar e se conter à realidade sociocultural e econômica e ao tangível.

Você pode vislumbrar esse mundo perfeito, uma realidade que num primeiro momento pode parecer ideal, mas que na prática teria todas essas consequências horríveis que na sua visão utópica são resolvidas num passe de mágica. Consequências políticas, sociais, econômicas, entre outras, que são colocadas de canto, em nome desta “causa maior”. O resultado disso se traduz em John Lennon pregando, em sua belíssima canção “Imagine”, um mundo sem posses do conforto de sua mansão de 290 metros quadrados. É a dissonância da realidade.

Prega-se um mundo sem fronteiras, ignorando que existem diferenças culturais entre nações, igualmente se ignora que há bilhões de pessoas desesperadamente pobres que desejariam se para algum rico país europeu com um generoso estado de bem-estar social incapaz de sustentar bilhões de seres humanos. Prega-se um mundo sem ódio, mas as pessoas que alardeiam o tempo todo o quanto o ódio e a intolerância é algo ruim são um dos grupos mais cheios de ódio e intolerância que você encontrará em sua vida (intolerantes contra brancos, cristãos, homens, etc).

O ponto central onde gostaria de chegar aqui é que para um artista, ainda mais no caso de um artista milionário, como John Lennon e toda elite liberal hollywoodiana, é demasiadamente fácil defender um mundo sem fronteiras, pois, para você, devido exclusivamente a sua condição financeira, o mundo realmente é esse lugar “sem muros”, é fácil ter uma visão “cor-de-rosa”  de questões sociopolíticas profundamente complexas, é fácil ignorar ou simplesmente não ver os impactos de todo um discurso que numa primeira vista realmente é muito bonito.

De modo algum é ruim sonhar, por favor, não interprete minhas palavras como uma ode contra os sonhadores, precisamos sonhar, tudo de bom que a humanidade um dia criou nasceu de um sonho, eu mesmo sonho com um mundo onde nós, através da tecnologia conseguimos acabar com o sofrimento, incluindo até mesmo o sofrimento animal, mas também, como diz o ditado “o inferno está cheio de boas intenções” e por demasiadas  vezes ao longo da história  pessoas que verdadeiramente acreditavam estar fazendo um trabalho grandioso trouxeram o inferno na terra.

Kodak, Sony e Microsoft


O que essas 3 empresas têm em comum? Todas elas são companhias que um dia foram a maior do seu ramo e que perderam oportunidades de ouro, pagando então um preço altíssimo por isso – ainda que algumas tenham sofrido bem mais do que outras.

A Kodak não enxergou que a fotografia analógica não sobreviveria a revolução digital. E não é que eles não soubessem que tais câmeras pudessem existir, ou não tivessem conhecimento da iminência de tal tecnologia, a primeira câmera fotográfica digital do mundo foi desenvolvida justamente pela Kodak. Continuar lendo Kodak, Sony e Microsoft

A China Eventualmente se Tornará uma Democracia


“As pessoas gostam do que elas não têm.”

Já dizia o Dr. House. Se você está com fome, você quer ter o que comer. Se você tem o que comer, você quer ter onde morar. Se você tem onde morar, você quer ter dinheiro. Se você tem dinheiro, você quer […] E assim por diante e assim por diante, e no fim dessa trilha de constante inquietação humana, eventualmente há um anseio pela liberdade.

Por esse motivo o governo chinês e todas as suas violações, toda sua opressão, todos os seus milhares de presos políticos, toda sua censura e incontáveis violações dos direitos humanos. Tudo isso não se sustentará.

Hoje em dia grande parte do país nasceu numa China miserável, eles não “pressupõem como garantido” um alto padrão de vida. Não como um britânico ou um suíço – ambas nações que já desfrutam da riqueza há muito tempo. Continuar lendo A China Eventualmente se Tornará uma Democracia

Economia: Sobre Coisas e Seu Valor


O valor de bens e serviços está ligado, essencialmente, a dois fatores:

Escassez: Esse primeiro critério se aplica tanto a escassez de matéria-prima (ouro, petróleo, pedras preciosas, etc…) quanto a do conhecimento propriamente dito (saber refinar aquela matéria-prima, saber dirigir um carro, saber pilotar um avião, etc…). Da mesma forma que só temos acesso a uma determinada quantidade de ouro num determinado momento, só temos acesso a uma determinada quantidade de tradutores, médicos, etc… nesse mesmo momento. A alta demanda (muita gente querendo algo) e baixa oferta (pouca gente capaz de oferecer tais bens e serviços) eleva o preço dos mesmos, tal como a remuneração daqueles que os ofertam. Princípio este que é ilustrado de modo bem claro principalmente em certos serviços que possuem uma alta margem de lucro, com um custo operacional relativamente baixo: consultas médicas de 15 minutos que custam 200 reais. Ou, de modo mais cômico e direto, nesse vídeo sobre o trabalho de um chaveiro. Continuar lendo Economia: Sobre Coisas e Seu Valor