Como a Imprensa Mente para Você

O poder da grande mídia consiste em controlar a opinião pública em grande parte através do processo de editorialização, não só da notícia, mas da própria história da humanidade.

Entenda, uma matéria falsa, completamente inventada do zero, é fácil de ser desmascarada. Jornal diz que B aconteceu, porém B não aconteceu. Isso é amadorismo. A arte da mentira está nas meias-verdades, ou no que o jornalista Fábio Boechat chamou de “Fuck News”, a notícia pela metade, a notícia cagada, a notícia de merda. A imprensa diz que evento A aconteceu, o que é verdade, mas não menciona evento B, C, D, E, F, etc… que mudariam sua conclusão sobre o evento A. Isso é demonstrado de forma brilhante no comercial, ironicamente, do jornal Folha de São Paulo de 1995.

As histórias que eles vão contar e as histórias que eles não vão contar, os destaques que eles darão para uma informação e o destaque que eles não darão à outra informação, os detalhes que serão esmiuçados, e os detalhes que serão varridos para debaixo do tapete – como o fato do “travesti abandonado” que o Drauzio Varella foi lá abraçar ter estuprado e matado um menino, ou ocultar que a menina de 11 anos grávida de 7 meses, que abortou após a histeria generalizada criada pela imprensa, na verdade estava grávida do irmão de 13 anos e que o relacionamento foi consensual.

As próprias palavras que serão usadas para se colocar um debate em discussão, o “framing”, o enquadramento: Não é à toa que chamam o movimento pró-vida de antiaborto, porém praticamente nunca se referem ao movimento pró-aborto como antivida.

E quando escrevem sobre o movimento pró-vida, colocam o termo entre aspas, como para dizer “isso é o que eles dizem, eles não são pró-vida coisa nenhuma”. Críticas e discordâncias da agenda da grande mídia são recorrentemente chamados de “ataques”, para evocar na mente do leitor a imagem de barbarismo e da violência física: um ataque físico, um ataque terrorista, etc…

Os termos utilizados, “estadista” se for um candidato que tenha apoio da grande mídia, e “populista” quando não tem o apoio da extrema imprensa.

Sutilezas, eufemismos, assassinatos de reputação seletivos e casuístas, e sempre representar o ponto do adversário sob o pior ângulo possível e com toda má vontade do mundo, enquanto pautas apoiadas e amigos são tratados com a mais absoluta boa vontade.

Não é por acaso que se referem ao jornalista brasileiro Allan dos Santos, refugiado nos EUA como “foragido”, por ele ser procurado pela justiça brasileira, o que em si é verdade, mas não é um rótulo que eles usam para se referir a Edward Snowden, que está também foragido da justiça de seu país. Percebe? A própria forma como a notícia é colocada já emite uma parcialidade do jornalista: “A perseguição contra Allan é justificável, a contra o Snowden não.”

Os “especialistas” que serão chamados para falar sobre algum assunto, sempre dispostos a validar ou invalidar a agenda da grande imprensa ao sabor do cliente – eles não seriam chamados lá se pensassem diferente – dando um ar de autoridade ao que muitas vezes é na melhor das hipóteses apenas uma tese jurídica num mar de outras teses jurídicas. De modo que a opinião de tais “experts” não serve para nada além de dar um verniz de autoridade científica à narrativa que tais jornalistas desejam validar.

Como diria Noam Chomsky, que compreendeu perfeitamente as técnicas de como a mídia manipula as pessoas, porém errou tremendamente sobre quem faz isso e o porquê, tal como ignorou que dentre todas as coisas que a mídia vende também está uma agenda de costumes: “Se você acreditasse em coisas diferentes, você não estaria sentado aqui.”

É necessário entender que a maioria das pessoas numa sociedade não vai se inteirar sobre política, mas apenas possuir um entendimento superficial disso. Em outras palavras, é alguém que vai chegar do trabalho em casa e ligar a TV ou acessar o site do UOL para ver o que está sendo falado e, infelizmente, acreditar que o que ele está recebendo não possui um viés. Não é alguém que vai buscar a informação por outros meios ou fazer a própria pesquisa. É essencialmente uma compreensão midiática periférica. Este é o motivo pelo qual chamam a mídia de Quarto Poder e pela qual a primeira coisa que regimes ditatoriais fazem é controlar a imprensa.

Figuras associadas a esquerda são romantizadas pela cultura pop.

A grande mídia, em conjunto com os grandes estúdios de cinema, e mais recentemente as redes sociais, que não deixam de ser um veículo de comunicação também, agem como um partido político e um Ministério da Propaganda, porém um mais poderoso que o de Goebbels, um organismo supranacional que não está limitado por fronteiras geográficas, abrangendo centenas de países.

Em muitos aspectos as big techs foram cooptadas pelas mesmas entidades que cooptaram o jornalismo e Hollywood, vide os inúmeros doodles do Google sempre homenageando figuras celebradas pela esquerda (como se apreciação por tais personalidades fosse “unânime” na sociedade, porém nunca se homenageia personalidades ligadas a direita ou figuras religiosas, mesmo num país de maioria cristã como no Brasil). Há uma fascinante entrevista realizada em 2004 para um canal israelense onde um dos fundadores do Google, Sergey Brin – um judeu – essencialmente se nega a censurar um site antissemita, “Jew Watch”, que aparecia entre os primeiros resultados ao pesquisar a palavra “jew” no Google. A mídia logo tratou de assassinar a reputação do buscador. Curiosamente, mesmo na época a imprensa brasileira, sempre afinada à narrativa vinda de fora, já tratou de repetir a narrativa.

O Google inicialmente lançou uma nota se defendendo, mas logo deu para trás, eventualmente passando a editorializar resultados de pesquisas, principalmente os de maior interesse, dando sempre destaque para a narrativa oficial dos veículos de imprensa, ao ponto de que pesquisar qualquer tema minimamente controverso hoje em dia no site é garantia de que você receberá apenas propaganda e a narrativa oficial do TSE, STF, Globo, UOL, New York Times, etc…

Como disse, o poder da mídia está em escolher quais discussões serão pautadas na sociedade e entenda, sempre vai estar acontecendo todo tipo de coisa no mundo, existem 8 bilhões de humanos acordando todos os dias e fazendo todo tipo de coisa, se você procurar, vai encontrar uma história sobre absolutamente tudo.

Se você colocar uma lupa num grupo então, pode falar sobre qualquer assunto e criar um senso de “urgência” ou duma falsa importância em relação aquele determinado tema. De modo que se dedica imensa parcela do tempo e manchetes focando em questões que são do interesse duma ínfima parcela da população enquanto assuntos do interesse da maioria são ignorados. A grande mídia repetidamente fala sobre família trans, mas dá pouco destaque para as pessoas que morreram vítimas da vacina contra COVID.

E quando dá, ou não é um veículo da grande mídia, ou não dá com a mesma ênfase com que noticia as pautas da casa. Essa é outra técnica: a notícia que você quer que cole sai como uma reportagem de 10 minutos no Jornal Nacional, a notícia que você quer que passe despercebida – já que às vezes eles tem que fingir que são minimamente isentos e postar a contragosto algo que desafia a narrativa deles – sai como uma matériazinha no OGlobo.

Talvez o maior problema nisso não é que 1 determinado veículo haja dessa maneira, talvez nem seria realista pensar que algum veículo midiático poderia ser totalmente imparcial, o ser humano é profundamente parcial e enviesado: nós pensamos nossas ideias e nós depois julgamos se elas estão certas, somos profundamente tendenciosos por natureza.

O problema está no fato de que praticamente todos os veículos agem dessa maneira, e, isso não é coincidência, isso não é por acaso, isso não é acidente. Para a propaganda funcionar, para ela grudar na cabeça das pessoas e ser o mais eficiente possível. Ela tem que ser unânime, unânime ao ponto de não parecer propaganda, mas sim apenas o “senso comum”, a pauta do momento, a “current thing”, obviedades tão claras quanto o fato do céu ser azul:

“A vacina é segura? Ora, é claro! A mulher ganha menos ’que o homem. Ora, é claro! O Brasil é o país que mais mata travestis e gays? Ora, é claro!”

É necessário convencer a opinião pública de que propaganda é só o que os outros dizem. Essencialmente transformam o posicionamento da grande mídia, que é de esquerda, no “padrão”. Vemos isso na própria discrepância com que o termo “extrema-esquerda” e “extrema-direita” são usados. A representação do espectro político na imprensa é retratada de modo totalmente tendencioso: esquerda vira centro. Extrema-esquerda vira esquerda. Direita vira extrema-direita.

Não é uma mera coincidência que o New York Times, por exemplo, apesar de ser um jornal claramente com viés liberal, progressista, prafrentex, etc, não é taxado dessa forma pelo resto da grande mídia e a panelinha do “Consórcio de Veículos de Imprensa”, diferente do que ocorre com jornais conservadores, que fogem do padrão, como a Fox News ou a Gazeta do Povo, que recebem o rótulo de conservador, a fim de dizer, ou no mínimo insinuar para o restante do público, que o que está lá é parcial e enviesado…

Embora a mídia seja um dos principais veículos para o impulsionamento dessa propaganda disfarçada de jornalismo, uma coisa similar acontece na indústria do entretenimento, como uma forma de reafirmar um determinado conjunto de valores e de criar um folclore popular em torno de certas figuras. Se o jornalismo da grande mídia é propaganda político-ideológica por outros meios, o entretenimento é a parte lúdica da propaganda. As histórias que vamos contar, as liberdades criativas usadas a fim de embelezar uma determinada narrativa e/ou figuras históricas e afins.

Gostaria muito de dizer que eu tenho uma solução para isso, para talvez essa pluralidade de opiniões que existem no mundo ser melhor representada e melhor distribuída na grande imprensa, no cinema e nas mídias sociais, mas não vejo muita solução, além de olhar com cinismo tudo que se vê nos grandes jornais e saber que a vasta maioria do que está lá representa apenas um espectro ideológico, no caso o espectro e valores sociais dos donos da imprensa.

Como disse brevemente anteriormente, países autoritários como governos do mundo árabe, Rússia e principalmente a China, lidam com isso ao controlar os meios de influência social (os jornais, o cinema, a internet, etc…). A “vantagem” disso é que impede a imprensa e elites internacionais de essencialmente sabotar o seu país, sabotar o seu governo e de transformar a sua nação numa marionete de elites estrangeiras que controlam a mídia. A desvantagem está em todos os males de regimes autoritários e ditaduras que o mundo já conheceu.

Por mais que a liberdade nas “democracias liberais”, especialmente na Europa e em regimes sul-americanos como o Brasil tenham muito pouco de liberdade, está muito mais para um medíocre simulacro de democracia.

Pastor Tupirani da Hora Lores, condenado a 18 anos por suas palavras.

É uma democracia aonde você é livre, mas o Estado tira o seu filho deficiente e o executa. É uma democracia aonde você vai preso por uma piada ensinando seu cachorro a fazer um determinado gesto. É uma democracia, mas aonde você é condenado a 18 anos de prisão – pena maior do que de muitos assassinos – por falar. É uma democracia aonde você é condenado a 8 anos de prisão por xingar a cúpula do poder, é uma democracia onde há exilados políticos e deputados cassados

É uma democracia onde você pode falar o que quiser, desde que não importe. Desde que ninguém preste atenção. De certa forma, esse regime “democrático” é o que a China sonharia ser, você só permite meia dúzia de memes tirando sarro do seu líder, 1 ou 2 jornais que não puxa seu saco, e alguns gatos-pingados de manifestações irrelevantes contra você. É só fazer isso e não precisa se preocupar nunca mais em empregar milhões de censores ou isolar sua internet do resto do mundo, você convenceu um escravo de que ele é livre.

E é muito fácil mascarar abusos dum estado autoritário quando você tem a grande mídia do seu lado. Cadê uma nota enfática da BBC condenando uma mulher que foi presa por rezar silenciosamente em público?

E o que vivemos no Brasil nos dias de hoje é um exemplo, testemunhamos algo muito próximo de uma ditadura judicial, com até a Interpol e o governo americano essencialmente reconhecendo que o Brasil está perseguindo seus cidadãos ao negarem tanto a inclusão do nome do Allan dos Santos na lista vermelha da Interpol, quanto a extradição dele. Mas tá tudo certo, o UOL e G1 falaram que o STF é o guardião da democracia, então tá tudo certo…

Em países como os EUA, a imprensa, cinema e redes sociais são livres – ou ao menos mais livres do que a imprensa chinesa. Este fato essencialmente permite que empresas e mecanismos estrangeiros influenciem a política interna do país, e de outras nações, de modo desproporcional, através do livre mercado e do argumento de que “se trata de plataformas privadas”.

Pense, por exemplo, no banimento de Donald Trump do Twitter. Uma empresa privada, administrada por um concelho de ricaços não eleitos, censurou o presidente dos EUA. Fora os impactos das decisões de empresas internacionais em outros países, como o YouTube censurando temporariamente o canal da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) após um parlamentar democraticamente eleito exibir um vídeo que questionava a narrativa oficial em relação à COVID-19.

Nesse mundo globalizado de capital fluido e investimentos nebulosos, um mundo da era de informação, de cabos de fibra óptica e redes sociais, leis como o § 1º do art. 3º da lei 5.250, que proíbe estrangeiros de serem donos de jornais brasileiros, pouca relevância tem e nada impedem que empresas localizadas do outro lado do mundo exerçam influência na política do Brasil e decidam o que você pode falar no seu país.

Enfim… isso não é para ser um livro de 200 páginas falando sobre cada uma das técnicas deles (à quem procura isso recomendo essa palestra de Flávio Gordon). Mas, se você ler esse texto e tiver que tirar apenas uma conclusão ou lição, diria o seguinte: sempre que você ler algo na grande mídia se pergunte:

Por que eu estou lendo isso? Por que essa notícia está aqui? Existe alguma narrativa que isso pode estar catapultando? Que outras matérias esse jornalista publicou? Questione. Procure. Duvide.

E seja profundamente cínico em relação a quem alardeia “defender a democracia”, os melhores no ódio são aqueles que pregam o amor, já dizia Charles Bukowski. Os melhores na ditadura são aqueles que pregam a democracia.

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