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Um Easter Egg de 20 Anos

É uma agradável experiência assistir a um filme antigo aleatório e, numa determinada cena, do nada, perceber “Oh, isso está parecendo aquele episódio dos Simpsons que eu assisti 30 vezes quando eu era criança”, e ver a situação ficando cada vez mais e mais parecida com a do episódio só para então finalmente sacar: “Caramba, é uma referência!”

De certo modo, é como se tivessem te dado um presente, um “easter egg”, que você nem se deu conta na época, mas depois de 10, 15, 20 anos… você finalmente entende.

É uma sensação que tive recentemente ao assistir “It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” e me dar conta que o episódio “Homer the Vigilante” fez referência a ele. E, algumas semanas depois, ao ver “Charlie and the Chocolate Factory” também notar que o episódio em que o Homer assume o serviço de coleta de lixo de Springfield faz uma homenagem a tal clássica obra.

Uma Fita de 40 Anos Atrás


Acabei encontrando algumas fitas cassetes antigas, a maioria sendo de músicas, mas algumas de registros familiares, mais especificamente de meu irmão. Aqui está algumas coisas que isso me fez refletir:

1) Quando todos nós formos embora e não estivermos mais aqui e todo mundo que um dia lembrou da gente também já tiver ido embora e as pessoas que conheceram as pessoas que nos conheceram e assim por diante e assim por diante, para que servirão todos os registros domésticos que fizemos? Tem aquele ditado que diz que você morre duas vezes: a primeira quando seu coração para de bater e a segunda quando o seu nome é dito pela última vez. Mas… talvez eu esteja sendo cínico demais… talvez, isso importe de alguma forma, para o nosso registro como humanidade? Talvez tudo afete tudo. O que me leva ao meu segundo ponto: 40 anos atrás eles gravaram uma fita de meu irmão mais velho falando num gravador e eu estou aqui escrevendo um texto pensando sobre isso… aquilo ainda está reverberando.

2) A revolução digital que vivemos tornou o mundo irreconhecível. É difícil explicar alguém nascido pós-2010 que houve uma época em que fazia sentido você gravar alguma música tocando na rádio. Hoje em dia a informação é abundante, você abre o Spotify e tem 40 milhões de músicas ao seu dispor.

3) Essa quantidade de registros só vai aumentar. E embora se você fosse de uma família milionária, provavelmente você deve ter registros coloridos do casamento do seu bisavô em 1947, isso era limitadíssimo. Vai ser estranho viver num mundo onde existem abundantes registros familiares em vídeos de 100 anos atrás…

4) Eu acho que eu nunca vou conseguir fazer as pazes com refletir sobre o passado, por algum motivo ver esses registros me deixa um tanto inquieto e triste. Eles são a incontestável prova do fato óbvio – fato que não gosto de pensar e que fujo do mesmo como o diabo da cruz: tudo tá passando. Tudo tá mudando, pessoas estão morrendo e a mudança é única constante na vida, e eu odeio pensar nisso.

O Titanic e as Pessoas Mortas Pelos Cantos…

Nós nascemos e morremos por aí, espalhados, cada um no seu canto, cada um no seu tempo. Todos fora de sincronia. Como na cena final do “Six Foot Under”.

Estava pesquisando sobre o desastre do Titanic, e apesar dele ter ocorrido em 1912, muitos dos sobreviventes acabaram vivendo bastante tempo após isso, tinham boa saúde e eram jovens na época. Um sobrevivente do Titanic que tivesse nascido em 1890 poderia possivelmente presenciar até mesmo a chegada dos anos 2000. De fato, a sobrevivente mais jovem do navio, um bebê de 2 meses, morreu em 2009.

Eu estou dando toda essa volta porque, acho que tem certos assuntos que te fascinam duma forma ou outra por algum motivo que você não sabe explicar o porquê exatamente. Todos aqueles sobreviventes do Titanic, que chegaram na costa e ficaram em algum abrigo onde receberam os primeiros socorros, todos eles morreram eventualmente “espalhados por aí”. Alguns eram idosos da Era Vitoriana nascidos em 1850 e morreram 1 ano depois de infarto, outros bebês recém nascidos que só morreram em 2009, pessoas de diferentes épocas coexistindo por alguns instantes, como sempre.

E isso é um assunto que não consigo deixar de lado. Já devo ter escrito uns 30 posts sobre isso, sobre como as eras e gerações se dissipam umas nas outras. Quem tinha 30 anos em 1980 tinha nascido em 1950. Quem nasceu em 1980 hoje em dia está com 40 anos, e não importa quanto tempo passe, “30 anos atrás” para mim sempre será os anos 70

Tinha um seriado que passava no SBT chamado “The Dead Zone”, onde um vidente tinha o poder de ver o que tinha acontecido e o que iria acontecer ao tocar em alguém ou algum objeto, imagino como seria estar lá em 1912 e apertar a mão de cada um daqueles sobreviventes e ver exatamente o que seria de suas vidas. Imagino como seria tocar as pessoas e saber de seus destinos.

Dicionário das Tristezas Obscuras: Çáha

Çáha

s.f Um momento que você acredita que todas as outras pessoas do mundo esqueceram, mas que você ainda lembra e ainda se importa, um instante aparentemente ordinário, mas que ainda continua com você, ainda existindo em sua mente… por algum motivo.

Talvez seja só uma palavra, um olhar, quiçá até um fim de tarde sem um dia e data exatos, mas que você lembra. E aquilo, por algum motivo, significou algo. E constantemente você se pergunta “alguém mais se lembra disso?”

Diário: 27/05/2022

Revirando algumas fotografias antigas e esquecidas numa conta abandonada dum site igualmente antigo e esquecido… é estranho ver a internet envelhecendo, tal como seus usuários, acho que para aqueles que viram a internet se tornando algo realmente popular e o nascimento dela como algo usado fora das universidades e tudo mais, entre o fim dos anos 90 e o começo dos anos 2000, pressuponho que é como se tivéssemos visto a criação da televisão, e há essa aura de “ser novidade”, que é esquisito e difícil de dissociar da internet. Talvez quem já nasceu neste mundo onde “A Grande Rede Mundial dos Computadores”, “A Autoestrada da Informação”, usando todos esses termos antigos que programas como Globo Repórter nos anos 90 usavam para descrever a internet, para quem nasceu nesse mundo onde a internet simplesmente “já estava lá já”, eles talvez não têm esse sentimento, mas para mim sempre será estranho essa noção de ver o tempo passando, tanto para a internet como para seus usuários.

Diário: 08/10/2019


• Pior do que ser infeliz é não saber o que você precisaria para ser feliz. Porque… ao menos os infelizes que idealizam vidas perfeitas tem o sonho, e você nem isso. E você, coitado, você tem apenas desesperança…

“Vocês são milleniuns ou eles agora estão tipo com uns 40 anos?”Rick and MortyAuto Erotic Assimilation

• Acredito que todos nós somos uns azarados por termos nascido no momento errado, viemos ao mundo antes de existir a tecnologia para resolver nossos problemas e curar nossas dores. Todos somos uns azarados do caralho, mas podia ser pior, né? Mas…. podia ter sido tão fodidamente melhor.

Essa música tem o sabor de tardes de domingos dos anos 90.

• A internet do final dos anos 90 e começo dos anos 2000 parecia esse “mundinho virtual secreto” que você se encontrava com seus amigos, enquanto hoje ela simplesmente está em toda parte. De repente você “não entrava mais na internet”, de repente você estava na internet o tempo todo, de repente o mundo era a internet. Provavelmente isso é só nostalgia barata de um velho com uns vinte-quase-trinta anos, mas é uma coisa que a gente, que pegou o começo da época da era da internet sente. Aliás, essa sensação é muito bem ilustrado em séries como “Superhuman Samurai Syber-Squad” e animes como “Corrector Yui”.

• A pior coisa que pode acontecer é a mídia começar a cobrir e dar notoriedadetiroteios nacionais praticados por pessoas buscando fama. Isso é o tipo de coisa que acaba criando toda uma cultura no país e incentivando outras pessoas cometer tais atos. Por mais que esses tiroteios que acontecem lá fora, principalmente nos EUA, ainda possam incentivar jovens a fazerem merda…. existe um distanciamento. A vida de um jovem americano é muito diferente da vida de um jovem brasileiro, o que acaba diminuindo o poder de influência, digamos assim. A gente só consegue invejar ou se inspirar com aquilo que minimamente conseguimos nos relacionar (when you can’t relate to somebody, you don’t envy them). Continuar lendo Diário: 08/10/2019