FIDE, Trans e o “Xadrez Negro”

2 drag queens playing chess Bernie Wrightson colorful / SDXL

A divisão do xadrez por categorias sempre me pareceu um conceito bem peculiar. Já escrevi sobre isso no passado, mas diante dessa nova notícia da FIDE vetando mulheres trans (pessoas que nasceram homens mas que se identificam como mulheres) de jogar em competições femininas achei válido voltar nesse assunto e abordar mais algumas questões:

1) Xadrez é um esporte que movimenta dinheiro. Existem prêmios para quem ganha competições e te garanto que o 16º colocado na competição masculina vai ganhar bem menos que a primeira colocada numa competição feminina, mesmo tendo um ranking muito maior que ela. Logo, é inevitável aparecer algum aventureiro com o nível mediano de xadrez para um homem praticante do esporte dando esse golpe e se aproveitando de uma brecha. Os inúmeros casos de doping no meio esportivo são prova de que alguém vai explorar isso. O resultado seria essencialmente a liga feminina de xadrez sendo dominada por golpistas.

2) Soma-se tal realidade a uma cultura onde exigir qualquer tipo de cirurgia, tratamento hormonal ou até mesmo um diagnóstico de disforia de gênero duma junta médica é tratado sob os gritos de “Transfóbico!. Portanto, bastaria apenas o critério de autodeclaração, tornando o golpe ainda mais tentador. Me lembra aquele caso do argentino que mudou de identidade de gênero para se aposentar mais cedo.

3) O melhor jogador do mundo, Magnus Carlsen, da moderna e prafrentex Noruega, possui 3 irmãs, uma delas, Ellen Øen Carlsen, aprendeu e jogou o esporte ao ponto de ter até mesmo um ranking FIDE, porém, diferente de seu irmão, nunca teve êxito no jogo. Logo, fica a pergunta: a culpa da Confederação Norueguesa não ter 50% de jogadoras mulheres entre os melhores jogadores de xadrez no país é do machismo de pessoas como o pai de Magnus Carlsen e da malvada sociedade norueguesa que aparentemente deve odiar tanto mulheres ao ponto de desencorajá-las de praticar o esporte?

4) Provavelmente essa distinção biológica entre homens e mulheres não é limitada apenas ao desempenho no jogo em si, mas se estende ao próprio interesse de mulheres pelo mesmo, o que por sua vez diminui a amostra de mulheres praticantes do esporte que poderiam vir a ser boas jogadoras se resolvessem jogar. Em outras palavras, não só o cérebro feminino seria menos propenso a “ser bom” no tipo de habilidade que o xadrez requer, como talvez até mais importante que isso, provavelmente o cérebro feminino é menos propenso a se interessar pelo esporte, o que por sua vez reduz a amostra de boas jogadoras.

É necessário destacar com ênfase: a maioria dos homens que joga xadrez é terrível no esporte, mas como você tem muitos homens que se interessam pelo jogo, mesmo a maioria deles jogando mal, isso ajudará a filtrar os bons jogadores, e a maioria deles será homem. Então, provavelmente a biologia atua no mínimo de uma dessas maneiras, mais provavelmente uma combinação de ambas, de modo que nem mesmo sociedades altamente progressistas conseguem – artificialmente e por meio de manipulação social – aumentar a participação de mulheres na elite do jogo.

5) Mesmo se você aceitar a alegação de que a existência de uma segregação por sexos é necessária visando incentivar a participação de mulheres no esporte “não devido a qualquer diferença biológica, mas sim devido ao tal preconceito da sociedade hétero normativa cristã patriarcal cisgênera

Se você aceita esse argumento e sua premissa base, você acaba criando um novo problema, já que você estaria então tratando mulheres como “café com leite”, pois o mesmo argumento, usando mais ou menos as mesmas alegações, poderia ser feito pedindo a criação de uma liga negra de xadrez, tal como a criação de títulos de GMs exclusivos para negros e competições com prêmios em dinheiro para jogadores negros visando aumentar a participação deles no esporte.

O mesmo argumento de discriminação, de falta de exemplos de referência de super GMs negros (nunca houve um grande mestre negro disputando o Torneio dos Candidatos), ocorre nesse caso. Então, por que não existe uma liga negra enxadrista, mas existe uma liga de xadrez feminino? No mínimo, para manter a coerência, você teria que também defender a existência dessa liga exclusiva para negros.

E, claro, aqui poderíamos entrar num loop infinito de criação de categorias específicas para grupos sociais historicamente estigmatizados e pouco representados no esporte: ligas e títulos de xadrez específicos para anões, albinos, cadeirantes, cegos, surdos, gordos, etc, etc…

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