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E se o Big Bang tivesse criado o Paraíso?

Ando com esse pensamento a respeito da criação do universo e sobre como as coisas poderiam ter sido, é uma mistura de física de botequim com filosofia de bar, mas vamos lá: Ao que tudo indica – transhumanismos à parte – tudo está fadado a entropia e a morte térmica do universo e por aí vai. Não existe almoço grátis e não existe motor perpétuo, as coisas tem que vir de algum lugar.

Não à toa o modelo cosmológico e todo o nosso conhecimento humano custosamente adquirido, catalogado e aprimorado ao longo de séculos e mais séculos não fazem sentido e não funcionam para tentar explicar o que aconteceu naquele “momento”. Resumidamente, a criação do universo é uma contradição as leis da física atuais.

Se nem mesmo as regras mais essenciais e fundamentais do nosso universo se aplicaram a tal instante, é plausível de se imaginar que teoricamente qualquer tipo de universo, com quaisquer leis da física, poderia ter surgido naquele momento, talvez um universo onde 2+2 fosse igual a 5, ou um onde o tempo passasse ao contrário, ou um no qual seres humanos tivessem a capacidade de materializar seus pensamentos, é até difícil de imaginar como tais lugares poderiam ter sido, pois nem mesmo nossa mundana lógica estaria submetida a ele. Continuar lendo E se o Big Bang tivesse criado o Paraíso?

…nós respeitosamente pedimos desculpas, mas não estaremos lá quando você morrer

14 anos, à meia-noite, ouço vozes na cozinha. Deixo meus pés seguirem o som enquanto deixo meus ouvidos escutarem, subo as escadas e na mesa da cozinha posso ver que Deus está sentado com o Diabo, compartilhando bebidas e histórias antigas.

A tábua do piso range. Um constrangimento vermelho inunda todo o rosto de Deus. Ele jura que não é o que parece, então jura que pode explicar. O diabo fala: “Seu Deus e eu colocamos todas as nossas diferenças de lado. Agora as ações do homem são dele mesmo. Mas ainda assim o homem nos culpará”. O diabo se levanta, pega suas chaves e endireita uma coroa enferrujada.

Ele me diz: “O inferno congelou e o céu queimou até o chão e você só tem uma vida, então faça o que você desejar com ela. Nós respeitosamente pedimos desculpas, mas não estaremos lá quando você morrer.”

Ritt Momney – (If) The Book Doesn’t Sell

Paraísos Hedonistas

Num mundo onde graças ao progresso tecnológico… se pudesse ter o paraíso na Terra com o pressionar de um botão… Seria compreensível alguém escolher não pressioná-lo? Não seria isso uma crueldade contra si mesmo? Um crime contra a humanidade não apertar esse botão, não aumentar o hedonismo e o prazer no universo? Nós temos o “direito”, subjetivismos à parte, de não sermos felizes, de deliberadamente escolhermos “não”?

Ok, talvez eu tenha colocado minhas conclusões muito rapidamente, permitam-me reformular e me explicar melhor. Estava refletindo sobre a eutanásia e o suicídio devido à depressão, e sobre o potencial tecnológico para resolver esses dois problemas.

Do lado da eutanásia a coisa toda é relativamente simples: se você quer morrer por ter alguma deficiência (tal como uma lesão na coluna que lhe deixou tetraplégico), ou por estar com um câncer terminal, ou até mesmo por estar velho (o que também é uma doença), e nós curamos esses problemas seus, você não desejaria mais querer parar de existir.

Em relação às pessoas saudáveis que querem se matar… a maioria delas quer parar de existir devido a tristeza, devido a dor que elas sentem em estarem vivas. O suicídio em tal situação é apenas um sintoma de uma doença chamada depressão, doença essa que ocorre devido ao fato de que a maioria dos medicamentos antidepressivos não são eficientes ao ponto de resolver seus problemas, de não lhe trazer uma “legítima felicidade”.

E não há nenhuma dúvida de que é possível alterarmos nossos cérebros e eliminarmos nossas fontes de desprazeres e tristezas (inclusive, abordo isso no meu texto “Personalidade.TXT”), nem tão pouco há razão para acharmos que boa parte dos pacientes se negariam a aceitar essa cura e serem felizes.

Entretanto, há a questão de que provavelmente haverá uma minoria de indivíduos que se negariam a tomar esse medicamento ou a se submeterem a esse tratamento. Efetivamente “escolhendo não ser feliz” ou, talvez, no caso dos suicidas niilistas, que não veem sentido na vida, “escolhendo não ter vontade de continuar existindo”.

E voltando ao começo do texto, esse é o ponto onde eu queria chegar. Numa realidade onde graças a tecnologia nós pudéssemos resolver todos esses problemas, e a “felicidade” e o “hedonismo” estivessem facilmente acessíveis, disponíveis, a um clicar de distância… seria compreensível não apertar tal botão e ser consumido por prazer?

Digo, esse é o mesmo questionamento que filósofo Robert Nozick propõe no seu experimento mental “The Experience Machine” (A Máquina do Experimento).


Vídeo do canal TED-Ed, explicando de maneira super simples como o experimento funciona.

E pessoalmente, eu… eu não consigo imaginar o que levaria alguém a não escolher o hedonismo e o prazer. Escolhendo assim, literalmente, o sofrimento e a não-existência. Me parece uma decisão completamente irracional.

Não me entenda mal, eu compreendo os suicidas depressivos e niilistas, e eu compreendo os tetraplégicos, que se cessam sua existência hoje em dia. Mas hoje em dia não temos curas pra muitas das nossas dores e desejos de “desexistência”. Hoje o sofrimento ainda é obrigatório.