O Desconhecido e o Léxico Futurista


Imagem do jornal “San Francisco Call” de 19 de Novembro de 1896 / Cena do filme “The Thirteenth Floor” (Décimo Terceiro Andar)

É verdadeiramente fascinante como o ser humano, ao deparar-se com um fenômeno que não faz sentido tenta compreendê-lo por meio das ferramentas, e da visão de mundo, e do “léxico futurista” que possui para interpretar esse mistério, e como dependendo do nosso conhecimento à época, essa incógnita toma diferentes formas.

Não é mera coincidência que os relatos de OVNIs surgem paralelamente aos avanços na tecnologia da aviação e da astronomia do fim do século 19 e começo do século 21. Ganhamos a capacidade de entender que esses estranhos pássaros mecânicos podiam existir e que o universo era algo muito mais complexo do que pensávamos, de que a Terra não era o centro de nada, de que haviam planetas, de que talvez fosse possível até mesmo viajar até eles. E a partir do momento que temos a capacidade de conceitualizar isso, toda uma nova forma de ver o mundo se abre.


De uma poética forma, esse “léxico futurista” se assemelha a linguagem alienígena no filme “Arrival” (A Chegada): enquanto a língua alienígena permitia o ser humano ver o futuro, como uma dimensão extra não-linear, esse léxico permite o ser humano imaginar futuros.

Antes disso tais misteriosos eventos sendo tidos como “fadas” ou intervenções divinas e outros fenômenos sobrenaturais E hoje sendo “explicados” como algo possivelmente futurista, algo que não existe ainda, mas que poderia talvez existir: “glitches” na realidade virtual dentro da qual estaríamos vivendo, explicação essa que só poderia ser imaginada num mundo onde, não somente o conceito de “computador” ou cérebros eletrônicos já existia no “Zeitgeist” daquela determinada sociedade, mas também um entendimento maior sobre simulações virtuais de ambiente e do papel que estímulos elétricos possuem na percepção do ser humano sobre a realidade.

Um mundo onde esse conceito pode ser extrapolado para imaginarmos que talvez ele seja resultado duma simulação digital que todos nós estaríamos vivendo.

Diário: 17/09/2023

– Você é um cínico, sabia?

– Por que diz isso?

– O único motivo de você estar “preocupado” com isso não é porque você se importa com a família ou com manter um clima bom familiar, mas porque você tá com medo disso melar o seu “esquema” e disso afetar você indiretamente. Dele acabar falando para ela “vocês que se virem então!”.

– Não é bem assim, eu não realmente também não quero um clima ruim. Eu não gosto de mudanças.

– Mas você ligaria bem menos se isso não afetasse financeiramente, não é?

– Bem…

– Hipócrita!

– Você só vê o pior de mim, as pessoas são os tons de cinza. Eu não sou a melhor pessoa do mundo mas eu também não acho que eu seja a pior.

– Bem, perto dele e de tudo que ele faz, você é uma bela bosta. Com toda sua vagabundagem, toques, e fetiches esquisitos e dificuldade de ser um ser humano normal. Você deveria se envergonhar.

– … eu sei.

O Progresso Econômico Como Criador de Direitos


Na prática, os direitos advêm dos interesses dos grupos com poder de ação numa sociedade e acima de tudo: advém duma realidade que permite que eles existam e que sejam mais ou menos postos em prática. O que quero dizer com isso?

Por que escravidão e o trabalho escravo infantil acabaram em boa parte do mundo? Porque temos tecnologia para isso. É simples assim. E nos países onde você tem crianças de 5 anos trabalhando extraindo minérios… estas são todas nações pobres sem progresso industrial onde não tem condições daquele direito, daquela lei, ter alguma manifestação real.


Gosto muito do conceito da “Pirâmide de Maslow”. Ela ilustra basicamente as necessidades primordiais do ser humano. Na base da pirâmide estão coisas como “fome” e “segurança”, no topo estão “realização pessoal” e “autoestima” – dilemas que você só consegue se preocupar quando suas necessidades básicas estão supridas.

A criação de direitos, e mais precisamente a materialização desses direitos em algo tangível (afinal, um Estado Falido como a Somália poderia escrever num pedaço de papel dizendo que a população tem “direito” a saúde e isso não materializaria hospitais num passe de mágica), enfim… a realização desses direitos obedece uma lógica similar: sociedades presas nos primeiros níveis da pirâmide terão “menos direitos” e sociedades mais avançadas industrialmente e tecnologicamente terão “mais direitos” porque seu avanço técnico-científico permite que tal ocorra.

Por exemplo, conforme avanços em simulações de medicamentos em modelos animais e carne sintética criada em laboratório forem se tornando realidade (dois dos principais usos de animais pelo homem), a noção da existência de um “direito à vida” dos animais tende a se tornar mais e mais normalizada até o ponto de ser aceita como um direito pela maioria de nós. Menos por nos importarmos com o sofrimento animal, embora a maioria das pessoas realmente não goste de ver o animal sofrer, mas sim porque a tecnologia chegou num ponto onde não precisamos mais matar animais para testar medicamentos, comer carne, etc…

Na prática, esse texto é essencialmente uma continuação de meu artigo anterior sobre como a tecnologia molda a existência humana. No fim do dia é isso que está acontecendo, aqui estou falando especificamente sobre direito, mas poderia ser sobre inúmeros outros aspectos: nossos hobbies, nossa imaginação, até mesmo nossa sexualidade.

Uma justiça que jamais teremos


Sobre o caso do brasileiro filho da puta que matou a ex-namorada, também brasileira, na frente dos dois filhos dela nos EUA…

É um tanto quanto irônico e profundamente triste o fato de que para uma família brasileira conseguir ter justiça ao ser vítima de um crime perpetuado por um brasileiro… ela tem que sair do próprio país.

Se esse homem tivesse cometido esse mesmo crime no Brasil, e deixássemos isso nas mãos do judiciário brasileiro, da polícia brasileira, das autoridades desse país: ou ele não teria punição (tem centenas de milhares de presos foragidos e apenas 30% dos homicídios são solucionados) ou teria uma punição levíssima (goleiro Bruno tá aí na condicional, Jatobá e Nardoni com saidinhas e afins).

De fato, se esse vagabundo tivesse conseguido voltar ao Brasil ele teria sua prisão perpétua reduzida para no máximo 30 anos, uma vez que o Brasil não extradita brasileiro nato, com um bom advogado conseguindo reduzir isso para uns 7 ou 10 anos.

O que aconteceu nesse caso, na prática, é a polícia e o judiciário americano corrigindo as cagadas do Brasil, corrigindo a impunidade desse país, visto que toda essa situação no fundo, aconteceu devido a mais pura incompetência das autoridades brasileiras, que simplesmente deixaram ele sair pela porta da frente para ir matar gente no exterior.

E, acima de tudo, o que aconteceu aqui é uma amostra dum sistema de justiça que a maioria dos brasileiros vivendo no Brasil, exceto se você for ministro do STF ou político graúdo, jamais terá acesso. Ao menos, ao cumprir a prisão perpétua pelo assassinato de sua ex-namorada, ele também vai estar sendo punido pelo assassinato cometido em Tocantins e recebendo a punição que o Estado Brasileiro falhou em aplicar.

Os Estados Unidos têm a justiça que o Brasil jamais terá.

O Brasil e as Cortes Internacionais


O governo Lula não está errado quando diz que o Brasil deveria sair ou repensar sua participação nesses tribunais internacionais, como a Corte Interamericana de Direito e o Tribunal Penal Internacional.

Nenhum país sério – ou que quer ser levado a sério – se submete a esses tribunais. EUA, China, Índia e até mesmo Filipinas não são signatários do mesmo, ou não o ratificaram ou até mesmo eventualmente acabaram por abandonar este acordo, por entenderem, corretamente, que essa “instância extra” é uma violação à soberania nacional.

De modo que todas as nações que participam desses tratados são “malandras” (no caso dos países Europeus e seus amigos, que certamente devem ser quem dão as cartas nessas cortes) ou “shitholes” de terceiro mundo que aceitam submeter a soberania de seu país a uma outra instância.

Todavia, contudo, porém, entretanto, isso é sem sombra alguma de dúvida eles defendendo uma pauta legítima de modo absolutamente cínico, falso e desonesto e no fundo pouco se importando verdadeiramente com a questão da soberania nacional. Só estão levantando esse debate por uma conveniência política momentânea: Lula e sua defesa sempre recorreram e defenderam a legitimidade desses mesmos mecanismos internacionais, seja para tentar inocentar ele ou para “condenar” Bolsonaro.

Ainda vou escrever um texto sobre critarquia e sobre como organismos internacionais como a ONU vem usando esses tratados internacionais e o sistema judiciário (que historicamente é o que menos tem qualquer tipo de representatividade popular) para essencialmente implantar uma pauta ideológica impopular e interferir na política dos países dos outros, essencialmente estabelecer uma ditadura judicial mundo à fora, tudo sob o falso manto de que “não se vota sobre direitos humanos”.

Sim, se vota, no caso do Brasil são 11 votos. Eles estão apenas dizendo que você é burro demais para votar sobre tais direitos.

Alguns pensamentos sobre a doação presumida de órgãos…

“Esposa e filho de Faustão vão à Câmara para defender a doação presumida de órgãos”

Na doação de órgãos é necessário que haja confiança. Confiança, não só de que não existe nenhum privilégio para milionários na fila, como também confiança de que os médicos tentarão o máximo possível salvar sua vida e de que não há nenhum esquema à la “Oh, vamos deixar fulano ter morte cerebral para roubarmos os órgãos dele”.

A doação deve ser absolutamente facultativa, voluntária e opcional, sem qualquer tipo de presunção por parte do Estado. Um desejo claro afirmando a vontade de doar, de preferência expressado ainda em vida pela própria vítima dando seu consentimento, na falta de alguma manifestação ou declaração do falecido – seja numa direção ou em outra – a decisão devendo então caber a família, que, via de regra, são os mais interessados em seu bem-estar e quem mais teria direito de falar em seu nome.

Qualquer coisa que vá na direção oposta, de passar por cima da liberdade alheia de doar ou não, de semear desconfiança, só fará com que pessoas e famílias que até então eram neutras percam a confiança no processo.

Um dos motivos para as pessoas acreditarem no sistema, acreditarem que o “plano” não é deixar você morrer, de que “você não é peça de reposição” (como disse um transplantado falando contra essa presunção de órgãos), de que os médicos tentarão fazer todo possível para salvar sua vida em vez de não fazer nada e deixar você morrer para seus órgãos serem vendidos para algum ricaço, é de que, depois disso tudo, na hora de doar os órgãos elas podem dizer “não”.


Por último, é interessante imaginar o tipo de conflito que essa lei causaria: o que acontece numa situação onde o sujeito não declarou seu desejo de ser ou não doador de órgão, porém onde a família não quer que isso ocorra? Diante desse conflito temos dois cenários possíveis:

1) O Estado vai simplesmente tomar os órgãos na força bruta, desrespeitando o desejo da família e essencialmente culpar o morto por ele não ter deixado em vida seu desejo de não ser doador.

2) Apesar do “consentimento presumido”, a família do morto tem o poder de passar por cima dessa presunção e negar o transplante. Nesse caso, o projeto de lei é inútil, já que as famílias que não quisessem doar iriam continuar não querendo doar. Que pelo que pesquisei, é o que acontece na Espanha, onde embora na teoria existam leis presumindo o transplante de órgãos, na prática a família é sempre consultada e o processo necessita da autorização dos mesmos.

Apesar de tudo isso que disse aqui, não sou totalmente contra algum tipo de mudança. Sempre defendi a liberdade individual, e acho que se a pessoa declarou em vida que quer ser doadora de órgão e a família discordar, o desejo do falecido deveria se sobrepor ao desejo da família. Pois, também me pareceria injusto se o falecido gostaria de doar, e esse desejo não ser respeitado ou não ter mecanismos na lei para respeitar o desejo dos falecidos (ainda que eu seja muito cínico em relação à aplicação prática das leis brasileiras, no mínimo num país que funcionasse, essa seria uma boa mudança).

Este país não tem o menor risco de dar certo


Este país não tem o menor risco de dar certo.

E aqui uso a palavra “risco” em vez de “chance”, pois “chance” transmite a ideia de que existe alguma tentativa, algum desejo de boa-fé de tentar fazer as coisas funcionarem, de que o objetivo final almejado aqui – ainda que falhando miseravelmente – seria de que o país desse certo.

Já no Brasil, o plano parece ser justamente que ele dê errado, como propositalmente arquitetar um prédio com uma falha estrutural para que ele desabe matando todos dentro. Logo, se o plano é que esse país dê errado, ele está funcionando perfeitamente: não há nenhum risco desse plano não funcionar.

Nós temos leis que terceirizam a responsabilidade, colocando a culpa no trabalhador por coisas que simplesmente não são responsabilidades dele (ex: dois gays de classe média brigam e a culpa é do porteiro que não se meteu / mulher bebe até perder a conta, é estuprada e a culpa é do taxista que deixou ela em frente a porta de casa) enquanto eximem o Estado Brasileiro da obrigação dele de prover segurança.

Temos uma imprensa podre que virou essencialmente assessoria de imprensa de um ladrão e de um judiciário que não consegue sair nas ruas brasileiras sem ser vaiado. Temos uma Suprema Corte que manda prender jornalistas e soltar traficantes, de brinde, até ainda devolvem o helicóptero deles. E para fechar com chave de ouro a reforma manicomial ainda manda soltar os loucos. A verdadeira ameaça para a sociedade é o comediante, esses ai, tem que trancar e jogar a chave fora.

Uma justiça e Ministério Público absolutamente cooptados por militantes políticos, que mais parecem querer transformar esse país num grande “Jogos Mortais” enquanto assistem o caos do terraço de suas casas de 3 andares com muros de arames farpados.

Possuímos um país com IDH e segurança pública de níveis de país africano discutindo as piores pautas de nações como Reino Unido e Alemanha, em vez de copiar o progresso econômico deles. Temos uma nação onde a justiça é tão desacreditada que grupos de extermínio são algo rotineiro, já que você não pode contar com a justiça – exceto, é claro, se você for o pai da Liana Friedenbach.

O último que sair, pelo amor de Deus, apaga a luz.

O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA

SDXL / Katsuhiro Otomo

Procurando por soluções em todos os lugares errados.

Essa atual revolta contra a inteligência artificial vinda de trabalhadores intelectuais ensinou a qualquer um prestando atenção mais sobre o ludismo do que muito livro de história por aí. Nos ensinou até um pouco além, não só sobre o ludismo, e a cegueira antitecnologia, mas sobre o desprezo pelo homem comum vindo de certos grupos. Ensinou:

1) Uma soberba duma elite de trabalhadores intelectuais que, no fundo, sempre olhou de cima para o “chão de fábrica”. Gente que essencialmente se achava melhor que os outros por ganhar a vida “fazendo arte”. Isso essencialmente colocou um cheque de humildade neles. Não à toa, entre as críticas papagaiadas pelos becos do twitter é comum ouvir algo como “Oh, eles deveriam automatizar o trabalho repetitivo, chato, bruto, o trabalho sem propósito, o trabalho inútil, o trabalho para gente burra (embora não digam isso em voz alta), etc, etc, não o nosso trabalho especial e encantado”, o que por si só é uma frase desprezível.

Se você precisa do trabalho, ele tem um propósito, o propósito dele é te sustentar. Dizer automatizem trabalho X, Y, Z, é simplesmente dizer, da forma mais cínica e debochada possível “automatizem o trabalho dos outros e não o meu”. Continuar lendo O Ludismo do Colarinho Branco e Sua Inútil Guerra Contra a IA